Lideranças da Força Sindical minimizaram a aproximação de Ricardo Nunes (MDB) com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em evento de promoção do prefeito junto a trabalhadores da construção civil de São Paulo nesta segunda-feira, 22. A entidade sindical se opôs a Bolsonaro durante todo o seu mandato, acusando-o de atacar direitos sociais e de negacionismo na pandemia. Nomes históricos do movimento, no entanto, defendem uma aliança com Nunes e entendem que a oficialização da entrada do PL de Bolsonaro na chapa do prefeito não compromete a decisão.
"Eu conheço o Ricardo há muitos anos. Ele nunca foi um cara de direita. É um cara de centro, que aglutinou em volta dele o maior conjunto de partidos que São Paulo já viu", declarou o deputado federal Paulinho da Força (Solidariedade), presidente de honra da Força Sindical. "É uma experiência importante no Brasil essa capacidade de trazer pessoas da extrema-direita à esquerda. Não tem problema o apoio de um partido de direita. O que importa para nós é que você está cuidando de São Paulo".
Nunes, por sua vez, declarou que "a democracia verdadeira é a que você dialoga com todo mundo e respeita os posicionamentos" e aproveitou o discurso para se afastar de posicionamentos radicais de Bolsonaro, como o viés antivacina. "Durante a pandemia, na nossa cidade, não faltou enfermaria, UTI, oxigênio para ninguém e nos tornamos a capital mundial da vacina."
O evento com trabalhadores da construção civil é visto como uma tentativa de Paulinho da Força e do Solidariedade, que anunciou apoio a Nunes na semana passada, de estender esse aval para a Força Sindical como um todo. Seria um contraponto da campanha do prefeito a outros movimentos sindicais, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), que estão com o seu principal adversário na disputa, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL).
O presidente da Força Sindical, Miguel Torres, não compareceu ao encontro. Ele faz parte do chamado "Conselhão" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e recentemente teve encontro com os ministros Luiz Marinho, do Trabalho, e Alexandre Padilha, de Relações Institucionais, em Brasília.
O Solidariedade, uma legenda de centro-esquerda, fez campanha para Lula nas eleições de 2022 contra Bolsonaro, mas rompeu com o PT em São Paulo por conta de "promessas não cumpridas", nas palavras de Paulinho da Força, sem maiores detalhamentos. O deputado elogiou o prefeito nesta segunda-feira pelo programa de obras habitacionais e de recapeamento, além de cursos profissionalizantes. Alfinetou ainda a ex-prefeita Marta Suplicy, que será vice de Boulos no pleito, dizendo que seu governo "só fazia imposto", e apoiou a escolha de Aldo Rebelo, "um esquerdista que tem relação com todo o mundo político no Brasil", para o seu lugar na Secretaria de Relações Internacionais.
Além do deputado, o presidente do Sindicato de Trabalhadores da Construção Civil, Ramalho da Construção (PSD), e o ex-deputado Luiz de Medeiros, um dos fundadores da Força Sindical, e Wilma Campos Machado, viúva do ex-deputado estadual Campos Machado e ligada ao Avante, estiveram presentes no auditório. Ramalho e Wilma apareceram em pôsteres sugerindo candidatura nas eleições de outubro; na entrada, os convidados receberam camisetas com o nome do primeiro.
Convocação contra a Enel (BIT:ENEI)
Paulinho da Força sinalizou ainda que usará o mandato parlamentar em Brasília para comprar uma briga do prefeito Ricardo Nunes contra a Enel, concessionária de energia elétrica em São Paulo, diante da crise dos apagões. O parlamentar anunciou que pretende articular uma convocação da empresa e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para prestar explicações na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados. Anunciou ainda que deve entregar, junto com o prefeito, uma denúncia no Tribunal de Contas da União (TCU), em fevereiro.