Um dos alvos da operação da Polícia Federal (PF) que investiga espionagens ilegais na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo de Jair Bolsonaro (PL) trabalha como assessor de um aliado do ex-presidente. O advogado Ricardo Wright Minussi Macedo é apontado pela PF como autor de um relatório que tentou ligar dois ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
Ricardo Wright é assistente parlamentar do senador bolsonarista Alan Rick (União Brasil-AC). A informação foi divulgada pelo Poder360 e confirmada pelo Estadão.
Há a suspeita de que a Abin tenha sido instrumentalizada para espionagens ilegais contra inimigos políticos. De acordo com a PF, uma "organização criminosa" se instalou na agência durante a gestão do hoje deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), principal alvo do inquérito.
O advogado é citado no despacho do ministro do STF Alexandre de Moraes que autorizou a busca e apreensão da PF nesta quinta-feira, 25. No documento, atribui-se a Wright a autoria de um arquivo de texto denominado "Prévia Nini.docx", um relatório que tenta relacionar os ministros do STF Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes ao PCC.
Ricardo Wright trabalha para Alan Rick, senador do Acre que, desde 2018, manifesta apoio a Jair Bolsonaro. Wright é um funcionário comissionado do gabinete - foi nomeado pelo próprio Rick para as funções que exerce. O assistente parlamentar júnior já trabalhava para Rick desde junho de 2021, quando o acreano era deputado federal.
Com a ida ao Senado, Wright mudou de Casa legislativa com o senador. Além disso, o advogado já representou Alan Rick em cinco processos judiciais. Em nota, a assessoria de Alan Rick disse que o senador "não tem qualquer gerência sobre as atividades privadas dos servidores". A reportagem tentou contato com Ricardo Wright, mas não obteve o retorno até a publicação deste texto. O espaço está aberto a manifestações.
Quem é Alan Rick
Após dois mandatos consecutivos como deputado federal no Acre, Alan Rick foi eleito senador nas eleições de 2022. Ele é jornalista, apresentador de TV e pastor evangélico. No começo do ano, Rick chegou a ter suas contas nas redes sociais bloqueadas por supostamente apoiar os atos golpistas de 8 de janeiro. O ministro Alexandre de Moraes só liberou o acesso do senador às redes depois de apelo do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Em julho do ano passado, circulou nas redes sociais um vídeo em que Rick hostiliza um atendente de uma companhia aérea no aeroporto de Brasília depois de perder um voo para Rio Branco. Imagens mostram que o senador bate no balcão e grita com o funcionário após ser avisado que só poderia embarcar no dia seguinte. O episódio ocorreu no início de 2022 e Rick se disse arrependido da atitude.
LEIA A ÍNTEGRA DA NOTA DE ALAN RICK:
Não tenho qualquer gerência sobre as atividades privadas dos meus servidores. Após tomar conhecimento do noticiado, fui informado que, no âmbito de sua atuação advocatícia privada, ele prestou serviços à Associação dos Servidores da ABIN (ASBIN).
Confio plenamente na Justiça e tenho certeza que as investigações demonstrarão que a veiculação do nome dele nessa investigação não passa de um mal entendido e tudo será devidamente esclarecido.