A live semanal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), chamada de “Conversa com o Presidente”, fará uma pausa para as festas de fim de ano e terá seu formato e periodicidade reavaliados para 2024. O Planalto, entretanto, nega que as transmissões acabem.
Segundo apurou o Poder360, mesmo com as baixas audiências registradas, o programa teria cumprido seu papel em pautar a imprensa e criar cortes curtos para viralizar nas redes sociais.
Nas duas próximas datas para a live, 28 de novembro e 5 de dezembro, Lula estará fora do Brasil –e deve fazer o programa de lá. Depois, há mais duas datas antes das festas de fim de ano, em 12 e 19 de dezembro, em que as lives devem ser realizadas. Depois, o programa terá uma pausa.
A ideia inicial do governo de fazer uma transmissão ao vivo era conseguir ter uma fonte de vídeos curtos para municiar sua militância online. Além disso, contam com a audiência indireta, já que a mídia tradicional repercute os temas falados por Lula no programa e retransmite a live.
Agora, a avaliação da equipe de Lula, no entanto, é de que os algoritmos das redes mudaram e o formato de live como é feito em si não rende tanto.
Apesar disso, o Planalto nega que as lives acabarão por completo. A equipe de Lula considera que o objetivo do programa foi alcançado por ser um espaço onde o governo controla o que será discutido e tudo que o petista diz na transmissão chega ao debate popular e viraliza em cortes feitos pelo Planalto ou por apoiadores.
Para não perder esse controle, o governo não quer acabar de vez com o “Conversa com o Presidente”. Depois da pausa de fim de ano, a ideia é repensar o formato e a periodicidade do programa.
A comunicação de Lula tem tentado apostar em momentos mais descontraídos para passar as mensagens que o governo quer. Antes do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), por exemplo, Lula e a primeira-dama, Janja da Silva, desejaram boa sorte aos estudantes do jardim do Alvorada e o petista usou até uma jaca no vídeo.
Lula começa o vídeo fazendo uma brincadeira com uma jaca na mão. Depois, recomenda tranquilidade. “Amanhã você tem que chegar no horário para fazer o Enem. Depois do Enem, você vai perceber como a sua vida vai começar a mudar. Eu desejo a vocês toda a sorte do mundo”.
Assista (2min26s):
Com menos lives no formato de 2023, é possível que vídeos como este sejam cada vez mais comuns nas redes do presidente. Seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL), era conhecido por seus passeios por Brasília, que produziam milhares de vídeos com frases espontâneas para serem disseminadas pelas redes sociais bolsonaristas.
Nem sempre, entretanto, há momentos que rendam cortes divertidos das transmissões de Lula, que seguem um roteiro de entrevista clássico. O próprio presidente demonstra inquietação durante os programas com as perguntas ou com a forma de conduzir o assunto da vez. Nesses casos, ele interrompe o entrevistador e faz outras colocações ou perguntas.
Audiência fraca
O entorno de Lula diz que audiência nunca foi o objetivo com as lives, sendo transmitidas às 8h30, toda 3ª feira. A live da última semana registrou 6.059 visualizações simultâneas nas redes sociais oficiais de Lula e do governo. A principal transmissão, no canal oficial do presidente no YouTube, foi a que teve maior pico de visualização, com 4.215 usuários.Em 7 de novembro, o presidente teve sua pior audiência. Foram só 3.709 views simultâneos nos perfis oficiais de Lula e do governo, que somaram 22.372 visualizações ao final. A exibição no canal do presidente no YouTube foi a que teve maior pico de visualização, com 2.599 usuários.
Ao todo, somando as 19 lives, só 113 mil pessoas assistiram ao programa “Conversa com o presidente” ao vivo na internet.
O resultado da audiência das lives de Lula é tímido quando comparado com as transmissões de Jair Bolsonaro (PL) durante o governo dele, de 2019 a 2022. O ex-presidente falava ao vivo tradicionalmente às quintas-feiras, às 19h, e o seu principal canal de transmissão era a sua página no Facebook (NASDAQ:META).
As lives de Lula têm transmissão semanal desde 13 de junho de 2023. São feitas em um formato profissional, com uso de câmeras de alta qualidade e com uma mesa e microfone no estilo dos atuais podcasts de entrevistas. O programa é gravado e transmitido sob a supervisão do secretário do Audiovisual da Secom (Secretaria de Comunicação Social), Ricardo Stuckert, que também é o fotógrafo de Lula.
Bolsonaro costumava fazer suas transmissões ao vivo diretamente de um celular com um cenário simples e, muitas vezes, improvisado. Costumava levar ministros e até cantar nas transmissões. Às vezes, ligava para quem não estava presente e colocava o microfone perto do telefone para transmitir o áudio. O improviso parecia ser maior do que o mostrado nas conversas de Lula.
Além das redes sociais, a “Conversa com o presidente” é transmitida pelo Canal Gov–rede de televisão pública brasileira pertencente à EBC (Empresa Brasil de Comunicação). As transmissões não têm custo.
As lives de Bolsonaro eram exibidas só nas redes sociais, com foco no Facebook, mas em 2020 passaram a ser retransmitidas pelo programa Os Pingos nos Is, da Jovem Pan. Os 4 jornalistas que apresentavam o programa à época (Vitor Brown, Augusto Nunes, Guilherme Fiuza e José Maria Trindade) faziam perguntas ao ex-presidente.
Nas transmissões de Bolsonaro, havia sempre a presença de um intérprete de libras, que se sentava ao seu lado. As de Lula também têm, mas em formato de televisão, no canto direito da tela.
Durante seu programa, Lula conversa com Marcos Uchôa, jornalista que deixou a Rede Globo em novembro de 2021, depois de 34 anos trabalhando na emissora. Assinou contrato com a EBC em março de 2023. No canal público, Uchôa é responsável por acompanhar as viagens internacionais do presidente, além de apresentar programas especiais.
Apesar de o formato ser o de uma entrevista informal, a impressão é de que há um roteiro a ser seguido. Muitas vezes, o próprio Lula diz que sentiu falta de um assunto mesmo sem que Uchôa fizesse a pergunta.
Uchôa chegou a se filiar ao PSB (Partido Socialista Brasileiro) para tentar o cargo de deputado federal em 2022, mas desistiu da candidatura. Hoje, ele atua como gerente de Serviços de Jornalismo e Produção de Programas da EBC.