SÃO PAULO (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, em meio a atritos com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e garantiu que o ministro continuará no cargo por muito tempo, "só de teimosia".
Lula aproveitou pronunciamento em evento promovido pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) para fazer um "reconhecimento" do trabalho de Padilha na interlocução do governo com Congresso e destacou que o cargo é muito difícil de ocupar.
"Só de teimosia, o Padilha vai ficar muito tempo nesse ministério, porque não tem ninguém melhor preparado para lidar com a diversidade dentro do Congresso Nacional que o companheiro Padilha", disse o presidente, comparando o cargo da articulação política do governo com um casamento, em que depois de um período em que "tudo é maravilhoso" começa a fase de cobrança.
A fala de Lula demarca um posicionamento do presidente após fortes críticas de Lira ao ministro, na quinta-feira, referindo-se a ele como "incompetente" e "desafeto pessoal".
O mais recente embate do deputado com Padilha veio à tona após a votação, na quarta-feira na Câmara, sobre a manutenção da prisão preventiva do deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), acusado de ser mandante do assassinado da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes.
No dia seguinte, questionado por jornalistas no Paraná se o placar baixo a favor da manutenção da prisão de Brazão decorreria do enfraquecimento da sua liderança na Câmara, Lira creditou a tese -- uma "notícia vazada do governo" -- ao ministro Padilha.
Preso há duas semanas pela Polícia Federal sob suspeita de ser um dos mandantes da morte da vereadora Marielle Franco em 2018, o deputado Chiquinho Brazão teve sua detenção mantida pela Câmara pelo placar de 277 votos a favor e 129 contra -- eram necessários 257 votos para que a prisão fosse mantida.
Uma fonte ligada a Lira disse que Padilha tentou jogar no colo dele uma derrota que não lhe diz respeito. Segundo a fonte, Lira não articulou nem a favor nem contra Brazão.
Ainda quinta-feira, o ministro publicou, na rede social X, um vídeo em que Lula diz, em cerimônia pública, que Padilha tem o cargo "mais espinhoso" do governo e deve continuar no posto "pela competência dele".
O Partido dos Trabalhadores também saiu em defesa do ministro nesta sexta-feira, afirmando, em nota, a "inegável a competência e a capacidade" de Padilha e manifestando "irrestrita solidariedade".
"Ao atacar o ministro Alexandre Padilha, o deputado Arthur Lira compromete a liturgia do cargo de presidente da Câmara Federal e ofende a harmonia entre os Poderes da República", segue a nota do PT.
Outro ministro a receber afagos públicos do presidente nesta sexta-feira foi Fernando Haddad, da Fazenda. Lula disse que o chefe da equipe econômica "faz diferença" no governo, além de ter "muita paciência".
O ministro da Fazenda tem se esforçado, nas conversas com o Legislativo, para deixar clara a necessidade de equilíbrio das contas públicas. Recentemente, o ministro fez questão de dizer que o cumprimento da meta fiscal depende do Parlamento, em uma menção a projetos que podem elevar a arrecadação do governo, mas que têm encontrado resistências entre deputados e senadores.
É ele quem tem negociado com o Congresso, por exemplo, sobre a reoneração da folha de pagamento de setores da economia, tema que ainda não chegou a um termo definitivo.
(Reportagem de Fabricio de Castro)