Por Fernando Cardoso
(Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta terça-feira que deseja aproveitar os seis meses em que o Brasil assumirá a presidência rotativa do Mercosul para concluir o acordo comercial entre o bloco sul-americano e a União Europeia.
"Quero fazer uma presidência exemplar. Quero me dedicar para que nesses seis meses a gente possa, inclusive, concluir o acordo com a União Europeia", disse Lula durante live semanal transmitida em suas redes sociais direto da Argentina, onde receberia a presidência do Mercosul durante cúpula do bloco.
O presidente explicou que busca fazer uma política de "ganha-ganha" no acordo com a UE, dizendo que não deseja um acordo em que um dos blocos tenha desvantagens em relação ao outro, e que os países sul-americanos não aceitarão "imposições" por parte do bloco europeu.
"Nós queremos fazer uma política de 'ganha-ganha'. A gente não quer fazer uma política que eles ganhem e que a gente perca", afirmou.
Mais tarde, ao assumir a presidência pro-tempore do Mercosul, Lula aproveitou para dizer que deve conversar na quarta-feira com Pedro Sánchez, primeiro-ministro da Espanha, que assumiu a presidência rotativa do Conselho da União Europeia. A ideia é que o acordo possa ser fechado sob a presidência do espanhol.
"Já não há mais explicações porque tantos anos de espera", disse o presidente brasileiro, em Puerto Iguazú, na Argentina.
"Amanhã vou falar ao telefone com o Pedro Sánchez, o nosso presidente do conselho de ministros na Espanha que vai assumir a União Europeia. E eu vou falar com ele porque ele acha que nós precisamos discutir, ele acha que seria importante fazer o acordo enquanto ele presidisse", acrescentou.
Em sua live, Lula relatou ainda que, em conversas recentes com o presidente da França, Emmanuel Macron, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que era "inaceitável" uma carta enviada pela UE que pedia punições para países que não cumprirem metas climáticas traçadas pelo Acordo de Paris.
Para Lula, um parceiro comercial e estratégico não deveria cobrar punições de outro e que os próprios países desenvolvidos não cumprem compromissos climáticos.
"É inaceitável. Você não pode imaginar que um parceiro comercial seu pode te impor condições... Acontece que os países ricos não cumprem nenhum dos acordos", disse.
O presidente defendeu que o Brasil tem "muita autoridade moral" para cuidar de suas próprias questões ambientais, reiterando o compromisso assumido por seu governo desde o início do mandato de zerar o desmatamento na Amazônia até 2030.
(Reportagem adicional de Maria Carolina Marcello)