Por Lisandra Paraguassu e Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu nesta sexta-feira o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), para um café da manhã com o objetivo de aparar arestas e melhorar a relação, depois das queixas do parlamentar em relação ao governo, explicitadas no discurso feito na abertura do ano legislativo, na segunda-feira.
De acordo com fontes ouvidas pela Reuters, Lira, que voltou de férias para a abertura do ano legislativo, pediu um encontro com o presidente, que marcou para a manhã desta sexta. O parlamentar adiou sua viagem de volta para seu Estado, Alagoas, para que pudesse conversar com o presidente, que passa o Carnaval em Brasília, mas em seguida emenda uma viagem para a África.
Uma das fontes contou que na conversa, que durou mais de uma hora e aconteceu apenas entre os dois, Lula prometeu a Lira que teria um canal direto com ele para resolver problemas na relação com os parlamentares.
O presidente da Câmara desfiou para Lula uma série de queixas de acordos não cumpridos, reclamou de vetos a projetos aprovados, lembrou que foi o primeiro a reconhecer sua vitória e ajudou na aprovação de projetos importantes para o governo, desde a PEC da transição.
De acordo com uma fonte próxima a Lira, Lula prometeu a ele que a relação irá melhorar. Disse ao parlamentar que ele pode continuar conversando diretamente com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, em vez de Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, com quem não tem uma boa relação, mas que poderá entrar em contato diretamente, se precisar, através de seus ajudantes de ordem.
O nome do ministro do SRI, no entanto, não foi tocado, apesar de Lira ter dito a interlocutores, no início desta semana, que preferia a saída do ministro.
Na segunda-feira, na abertura do ano legislativo, Lira fez um duro discurso em que cobrou do governo cumprimento de acordos e afirmou que a Câmara não era apenas um "carimbador" de projetos do governo.
No início desta semana, assinou um pedido de informações convocando a ministra da Saúde, Nísia Trindade, a explicar o pagamento de emendas parlamentares, em um gesto incomum. Normalmente esse tipo de ato é assinado por parlamentares comuns, não pelo presidente da Casa.
Lula perguntou a Lira na conversa o porquê do tom do discurso. O parlamentar teria dito que não vinha sendo ouvido e precisava dar uma resposta para sua base no Congresso.
"Mas zerou agora. Lula prometeu que a relação vai melhorar", disse a fonte próxima a Lira.
Depois da reunião, o presidente se reuniu com Padilha e com o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-PE), a quem pediu que organizassem encontros com os líderes da base no Congresso.
"Ele quer, como já tinha dito, se encontrar tanto com os líderes do Senado quanto com os líderes da Câmara, retomarmos aí as reuniões do que nós chamamos do conselho político da coalizão. Envolve os líderes do Senado, os líderes da Câmara. Então, nós vamos construir com a agenda do presidente", disse Padilha.
Por trás da irritação de Lira estavam a perda de poder sobre a negociação de liberação de emendas para parlamentares, que saiu da presidência da Câmara com o fim do chamado orçamento secreto, e foi para a Secretaria de Relações Institucionais, chefiada pelo ministro Alexandre Padilha.
A aliados, Lira tem dito que gostaria que Lula trocasse Padilha, com quem a relação se deteriorou. Isso, no entanto, não deve acontecer.
Também incomoda Lira a necessidade de fazer seu sucessor na presidência da Câmara. Nas últimas semanas, o Planalto incluiu em viagens de Lula dois nomes que competem pelo posto de Lira, o vice-presidente da Casa, Marcos Pereira (Republicanos-SP), e o deputado Antonio Brito (PSD-BA).
Ambos tem mais simpatia do Planalto do que o deputado Elmar Nascimento (União-BA), o preferido de Lira.
Os três, no entanto, dividem os votos do centrão e podem rachar a base de Lira.
O presidente da Câmara queria um gesto de apoio a seu candidato por parte do Planalto, mas Lula planeja se manter distante da disputa.