O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, vai montar uma equipe com mais ministros, mas disse que seu terceiro mandato não será "requentado". O plano de Lula é chamar nomes em ascensão na política e na economia para integrar o seu ministério. A estratégia não significa, porém, fechar as portas para o Centrão, grupo associado à prática do "toma lá, dá cá".
A negociação com partidos do bloco que hoje dá sustentação ao presidente Jair Bolsonaro, principalmente com o PP, o PL e o Republicanos, é vista como fundamental para construir acordos no Congresso, que terá maioria conservadora a partir de 2023. Convencido de que não conseguirá acabar com o orçamento secreto tão cedo, o petista tentará um arranjo para que deputados e senadores direcionem os recursos a uma lista de projetos prioritários do governo.
A nova configuração da Esplanada prevê o aumento dos atuais 23 ministérios para 34. Trata-se de uma conta preliminar, que pode sofrer alterações com a criação de secretarias especiais.
A entrada da senadora Simone Tebet (MDB-MS) no primeiro escalão é dada como certa. Ela saiu da disputa presidencial em terceiro lugar e, três dias depois, aderiu à campanha de Lula. A senadora gostaria de comandar a Educação, pasta que sempre foi cobiçada pelo PT. O presidente eleito já disse, porém, que seu partido terá de abrir mão de assentos na Esplanada para a "frente ampla".
Lula desmembrará o Ministério da Economia, e a ideia é rebatizá-lo como Fazenda. Com a divisão, serão recriados Planejamento e Gestão, além de Indústria e Comércio. Ex-governador do Maranhão, o senador eleito Flávio Dino (PSB) pode ficar com Justiça, que, se tudo correr como o roteiro previsto, será separada de Segurança Pública.
O novo governo terá ainda o Ministério dos Povos Originários, e há projetos para refundar Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Cultura, Cidades, Igualdade Racial, Pesca, Direitos Humanos e Mulheres - os dois últimos em outro formato.
Na avaliação de Lula, a equipe econômica deve ser comandada por um político. Foi assim que Antonio Palocci, ex-prefeito de Ribeirão Preto, acabou alçado à Fazenda no primeiro mandato do petista, em 2003, e chegou à Casa Civil sob Dilma Rousseff, em 2011, até cair em desgraça, no rastro de escândalos.
O teto de gastos será revogado e a nova âncora fiscal em estudo prevê a retomada do superávit primário como novo balizador das contas públicas. Desta vez, porém, é provável que a meta seja flexível, combinada com uma "licença" para gastar e cumprir compromissos, como o pagamento do Auxílio Brasil de R$ 600. Pelos cálculos de economistas consultados pelo presidente eleito, o rombo a ser herdado ficará na casa de R$ 400 bilhões.
"É impossível detalhar a nova âncora fiscal sem as contas na mão", disse o deputado Alexandre Padilha (PT), ex-ministro da Saúde no governo Dilma. "Não temos o diagnóstico definitivo da tragédia de Bolsonaro para o País", argumentou ele.
COTADOS
Padilha é um dos nomes cotados para comandar a Economia. Constam ainda da lista, o ex-prefeito Fernando Haddad, que perdeu a disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, o senador eleito Wellington Dias e o governador da Bahia, Rui Costa, todos do PT. O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, presidente do Banco Central na gestão Lula, poderá ocupar outro cargo, ainda não definido. O secretário da Fazenda de São Paulo, Felipe Salto, deve ir para o Tesouro.
O desenho da Casa Civil está em estudo. Haddad também é lembrado para essa cadeira se a pasta tiver perfil mais técnico, como era quando Dilma foi ministra. Lula ainda não escolheu quem será o articulador político do governo.
Há nomes que o presidente eleito vê como curingas. Além de Haddad, este é o caso de Wellington Dias, que administrou duas vezes o Piauí; do governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB); da deputada eleita Marina Silva (Rede), ex-ministra do Meio Ambiente; e dos senadores Jaques Wagner (PT) e Randolfe Rodrigues (Rede).
Dois xarás com grafias diferentes também estão no xadrez de Lula: o ex-chanceler Aloysio Nunes, primeiro nome do PSDB a apoiar o petista, e o ex-coordenador do programa de governo Aloizio Mercadante (PT), que foi ministro da Educação, da Ciência e Tecnologia e da Casa Civil na gestão Dilma. Mas o presidente eleito avisou a aliados que, antes de definir posições nesse jogo, precisa pôr a lupa sobre o resultado das eleições nos Estados.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.