Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general da reserva Marco Edson Gonçalves Dias, pediu demissão nesta quarta-feira, se tornando o primeiro integrante do gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a cair neste terceiro mandato.
A saída de GDias, como é conhecido, acontece depois que a CNN Brasil divulgou imagens do general circulando pelo Planalto durante os ataques de 8 de janeiro.
Apesar de ser conhecida a presença do general no local durante a invasão, as imagens de GDias andando no terceiro andar do Planalto sem rumo, passou a ser usada pela oposição como um sinal de que o governo teria de alguma forma facilitado a entrada dos invasores e fortaleceu o pedido de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre o 8 de janeiro.
No Palácio do Planalto, não há dúvidas de que o general da reserva não apoiou ou facilitou de nenhuma forma a invasão. Amigo de Lula há mais de 20 anos, GDias foi chefe da segurança da presidência nos dois mandatos anteriores do presidente.
"O que ficou complicado é que ele não revelou a dimensão da ação do GSI no 8 de janeiro", disse uma fonte palaciana.
Além disso, as imagens divulgadas pela CNN, e que estariam no processo do Supremo Tribunal Federal, não teriam sido entregues em sua totalidade à Presidência da República.
A saída do general do cargo foi decidida em uma reunião de cerca de 40 minutos entre Lula e todos os ministros palacianos - Rui Costa (Casa Civil), Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Márcio Macêdo (Secretaria Geral da Presidência), Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação), e o próprio GDias. Ao final, o general foi com Pimenta elaborar uma nota divulgada pela Presidência em que sua demissão não é citada.
O texto reitera que todos os militares envolvidos nos ataques estão sendo investigados e serão punidos, e que o governo está tomando todas as medidas possíveis para facilitar as investigações.
"O governo tem tomado todas as medidas que lhe cabem na investigação do episódio. E reafirma que todos os envolvidos em atos criminosos no dia 8 de janeiro, civis ou militares, estão sendo identificados pela Polícia Federal e apresentados ao Ministério Público e ao Poder Judiciário."
"A orientação do governo permanece a mesma: não haverá impunidade para os envolvidos nos atos criminosos de 8 de janeiro", diz o texto.
As imagens do circuito interno de segurança, divulgadas pela CNN Brasil, mostram um capitão do exército, lotado no GSI - que a empresa preferiu não divulgar o nome - dando água e conversando com os golpistas. Em outra imagem o general Dias aparece caminhando pelo terceiro andar do Planalto sozinho.
Parlamentares da oposição imediatamente reforçaram o discurso de que militares do "GSI de Lula" teriam facilitado a ação dos golpistas.
À época, com apenas uma semana do novo governo, os lotados no GSI ainda eram os nomeados pelo general da reserva Augusto Heleno, ministro nomeado por Bolsonaro. Ainda segundo a CNN Brasil, o capitão foi exonerado.
A presença de Dias no Planalto já era conhecida. O general chegou logo depois da invasão e ficou até a chegada do presidente Lula, já na noite do dia 8, depois que todos os golpistas já tinham sido expulsos e presos. A alegação da oposição agora é que Dias parece "muito tranquilo" ao andar no terceiro andar enquanto invasores ainda estavam no Planalto.
A postura do general das imagens não é uma das razões da sua saída. Fonte ouvida pela Reuters alega que o general - que foi capaz de tirar invasores da porta do sala do presidência e trancar os vidros blindados - fez o que era possível, sozinho.
A dúvida agora é quem Lula vai colocar no lugar de GDias no GSI, um cargo estratégico. O general da reserva topou o posto justamente porque o presidente não tinha alguém de confiança entre militares de alta patente para assumir o posto em janeiro, segundo a mesma fonte palaciana. Além de GDias, também deixou o GSI Ricardo Nigri, secretário-executivo.
Quem assume interinamente o posto no GSI é Ricardo Cappelli, secretário-executivo do Ministério da Justiça que foi interventor no governo do Distrito Federal após os ataques de 8 de janeiro.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu.)