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Não estão julgando, mas executando, diz vereador acusado de racismo

Publicado 19.09.2023, 19:14
© Reuters Não estão julgando, mas executando, diz vereador acusado de racismo

O vereador de São Paulo Camilo Cristófaro (Avante) discusou em tribuna na Câmara Municipal da capital paulista na tarde desta 3ª feira (19.set.2023) antes de ser julgado pelos colegas de Casa por quebra de decoro parlamentar. Ele foi acusado de racismo por fala feita em sessão em maio de 2022.

Ao se defender diante dos demais vereadores, Cistrófaro disse: “Aqui ninguém está me julgando, estão me executando”. A declaração foi seguida de gritos pelos demais presentes no plenário da Casa.

O episódio que levou à cassação de Cristófaro por 47 votos a favor é relacionado a um áudio vazado durante uma transmissão da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos aplicativos de transporte. Na ocasião, o então vereador disse: “Eles arrumaram e não lavaram a calçada. É coisa de preto, né?”.

Em 30 de agosto, a CCJ (Comissão de Constituição, Justiça e Legislação Participativa) deu aval ao processo de cassação, aprovando requerimento da Corregedoria da Câmara Municipal. Eis a íntegra do processo (PDF – 22 MB).

Em sessão desta 3ª feira (19.set), Camilo Cristófaro negou ser racista. “Um vereador racista, que tem na sua equipe do gabinete, mais do que qualquer outro vereador, 60% de negros. Gozado que esse vereador tem na subprefeitura de Ipiranga, dos 16 funcionários, 14 negros. Incluindo o subprefeito e o chefe de gabinete”, declarou.

O então vereador também disse saber a “decisão” dos vereadores por sua cassação, mas afirmou ter sido procurado pelos colegas. “Os vereadores disseram: ‘injustiça e você não é racista'”, declarou.

“Eu nunca fui chamado de racista por qualquer canto que eu ande dessa cidade. Onde estão os movimentos, se eu ando por toda essa cidade e eu nunca fui ofendido por ninguém? Sabe por quê? Porque nós temos trabalho”, afirmou.

Camilo Cristófaro chegou a acusar vereadores de pagarem R$ 50 e uma cesta básica para que pessoas o atacassem durante sessão desta 3ª feira (19.set).

O vereador cassado também chegou a citar a vereadora Luana Alves (PSol-SP). “Ela disse: ‘Camilo, você não é racista. Mas você é rico e pode pagar advogado'”, declarou.

O Poder360 procurou a assessoria de imprensa de Luana Alves para pedir um posicionamento. O espaço segue aberto para futuras manifestações.

ABSOLVIDO NA JUSTIÇA

Em 13 de julho deste ano, o TJSP (Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo) absolveu o vereador Camilo Cristófaro acusado de proferir fala racista na Câmara Municipal de São Paulo. Em áudio vazado em sessão, ele disse: “É coisa de preto, né?”.

Na decisão, o juiz Fábio Aguiar Munhoz Soares pontuou que “a fala em si na sua objetividade poderia sim ser considerada discriminatória, porém ao ser dita sem a vontade de discriminar há um esvaziamento natural do dolo”. Eis a íntegra da sentença (PDF – 77 KB).

“As pessoas que ouviram a frase sendo dita pelo acusado não sabiam o contexto em que era dita ou a quem era dirigida, pondo-se a censurar o acusado tão somente porque dissera este algo de cunho discriminatório/racista sem investigar, contudo, o contexto em que fora a fala proferida”, completou.

Na avaliação de Soares, para que Cristófaro fosse condenado, “era necessário que ficasse devidamente comprovada nos autos não somente sua fala, mas também a consciência e a vontade de discriminar, pois não fosse assim e bastaria que se recortassem falas de seus contextos para que possível fosse a condenação de quem quer que fosse”.

O juiz afirmou que as testemunhas ouvidas no julgamento comprovaram que a declaração do vereador foi “extraída de um contexto de brincadeira, de pilhéria, mas nunca de um contexto de segregação, de discriminação ou coisa que o valha”.

RELEMBRE O CASO

Em 3 de maio, Cristófaro teve seu áudio vazado durante sessão da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Aplicativos, na Câmara dos Vereadores de São Paulo.

“Não lavar a calçada… é coisa de preto, né?”, disse o vereador que participava de forma remota.

Depois da fala de Cristófaro, o presidente da comissão, Adilson Amadeu (União Brasil), interrompeu os trabalhos por 5 minutos.

Horas depois do episódio, o vereador pediu desculpas e chegou a dar duas versões sobre o ocorrido. Primeiro, divulgou um vídeo em que aparece com Fuscas e diz que a fala foi em referência a carros pretos.

Depois, ao participar presencialmente do Colégio de Líderes da Câmara, afirmou que estava “brincando” e se referindo a um “amigo-irmão”.

Ele falou: “Eu ia gravar um programa que não foi gravado lá no meu galpão de carros. Eu estava com o [Anderson] Chuchu, que é o chefe de gabinete da Sub do Ipiranga, e é negro. Eu comentei com ele, que estava lá. Inclusive, no domingo nós fizemos uma limpeza lá e quando eu cheguei eu falei: ‘isso aí é coisa de preto, né?’. Falei pro Chuchu, como irmão, porque ele é meu irmão”.

Com o ocorrido, o PSB de São Paulo desfiliou o Cristófaro. A saída do político, no entanto, já estava em negociação desde 28 de abril.

Segundo o presidente estadual do PSB, Jonas Donizette, o desligamento foi solicitado por um conflito político ocasionado pela mudança na direção do diretório municipal paulista, cuja nova presidente é a deputada federal Tabata Amaral.

Procurado pelo Poder360 na época do vazamento do áudio, o vereador Camilo Cristófaro respondeu por mensagem, na íntegra: “Política deles. Eu não sobrevoou [sic] cadáveres. Eu sou humano. 70% dos meus funcionários são afros. Eu fui infeliz em um contexto, mas racismo nunca”.

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