O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, afirmou nesta 3ª feira (19.set.2023) que os Estados Unidos prenderam e mataram milhões de latino-americanos e africanos em função da “guerra às drogas”.
Em seu discurso durante a 78ª Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Petro disse que “eles prenderam e mataram milhões de latino-americanos e africanos, destruíram nossas democracias. Mas nunca prenderam os jovens ricos de Manhattan”.
O discurso deste ano do líder colombiano remete à sua fala de 2022, quando ele também mencionou a guerra às drogas. No evento do ano passado, Petro questionou a “perseguição” à cocaína, que, segundo ele, causa um número insignificante de mortes por overdose, enquanto o carvão e o petróleo são “protegidos mesmo que seus usos levem a humanidade à extinção”.
Segundo Petro, a “perseguição à juventude rebelde que se opunha à guerra no Vietnã [1959-1975] acabou por conduzir a sociedade para as drogas do neoliberalismo e da competição”. O presidente colombiano afirmou ainda que o governo norte-americano enfrenta, hoje, “o maior desdobramento da guerra às drogas”, que seria o alto consumo de fentanil nos EUA. “Senhoras e senhores, eles [EUA] construíram a injustiça”, declarou Petro.
O fentanil é uma droga sintética que faz parte da família dos opióides, normalmente usados como analgésicos. No entanto, o fentanil é considerado 100 vezes mais potente do que a morfina e 50 vezes mais potente do que a heroína. Assim, esta droga pode levar à overdose fatal se usada sem orientação médica.
Somente nos EUA, o número de mortes envolvendo o consumo de fentanil aumentou quase 4 vezes de 2016 a 2021, segundo um relatório do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos) publicado em maio de 2023. De acordo com o órgão, o consumo da droga no país mata em média 100 mil pessoas ao ano.
Também relembrando seu discurso anterior, o presidente da Colômbia afirmou que, desde então, “só vimos uma piora do que os ricos de Davos [cidade na Suíça onde é realizada a cúpula do Fórum Econômico Mundial] chamam de ‘policrise'”. Segundo Petro, a fome e as guerras no mundo se agravaram.
“Em vez de falarmos sobre como defender a vida para o futuro, decidimos, no entanto, gastar nosso tempo matando uns aos outros. Não estamos pensando em como expandir a vida até as estrelas, mas sim em como acabar com ela em nosso planeta”, disse.
O chefe do Executivo colombiano também falou sobre a cobrança para países da América Latina atuarem em guerras estrangeiras. De acordo com Petro, “[outros países] esquecem que nossos países foram invadidos inúmeras vezes pelas mesmas pessoas que agora estão falando sobre combater invasões”.
O presidente da Colômbia também questionou as diferentes posturas ao abordar conflitos, e usou como exemplo o envolvimento de países desenvolvidos na guerra da Rússia contra a Ucrânia enquanto, segundo ele, não há o mesmo tratamento em relação aos conflitos na Palestina.
“As mesmas razões que usam para defender o Zelensky deveriam ser as mesmas usadas para defender a Palestina”, declarou Petro. Além disso, ele também propôs à ONU a criação de conferências distintas para debater ambos os conflitos.
“Proponho que a ONU tenha, o mais rápido possível, duas conferencias para a paz: uma sobre a Ucrânia e uma sobre a Palestina, para que isso lidere o caminho para a paz em todas as partes do mundo, porque essas duas regiões podem trazer um fim para a hipocrisia como uma prática política”, afirmou o presidente colombiano.
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