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Raposo Tavares é liberada após acordo com a PM em Sorocaba

Publicado 02.11.2022, 16:46
Atualizado 02.11.2022, 20:11
© Reuters.  Raposo Tavares é liberada após acordo com a PM em Sorocaba

O bloqueio dos bolsonaristas no km 110 da rodovia Raposo Tavares foi suspenso no fim da tarde desta quarta-feira, 2, depois de negociações entre os líderes da manifestação e a Polícia Militar. Às 19 horas, todas as faixas das pistas expressas e marginais estavam desobstruídas e o trânsito fluía normalmente. Um pequeno grupo de manifestantes permanecia na margem da rodovia, sem interferir no tráfego.

O bloqueio que aconteceu no km 8 da rodovia Senador José Ermírio de Moraes (Castelinho), principal ligação de Sorocaba com a rodovia Castelo Branco, também foi suspenso. No km 115, da Castelo, em Boituva, a PM teve de usar a tropa de choque para retirar os manifestantes da pista. Os policiais usaram um veículo lançador de água, um blindado e bombas de gás lacrimogêneo, mas ninguém se feriu.

Terminou também o bloqueio na rodovia de acesso ao Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas. Na rodovia Santos Dumont, permanecia bloqueada parcialmente, no início da noite, a pista no sentido Campinas. No sentido Sorocaba, o trânsito estava fluindo normalmente.

O prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga (Republicanos), chegou a visitar os manifestantes que bloquearam a Raposo Tavares na última terça-feira. Apoiador de Bolsonaro, Manga tirou fotos, rezou com os bolsonaristas e ganhou aplausos após fazer um discurso elogiando o grupo por estar permitindo a passagem dos veículos - o que de fato não acontecia até aquele momento.

Além de barracas do Jeep Clube de Sorocaba, o ponto de concetração ganhou banheiros químicos, instalados pela Pilar Organizações e Eventos. O funcionário da empresa não informou quem havia contratado o serviço. Um guindaste do grupo Salmeron, empresa do setor de energia e reciclagem, foi cedido para hastear uma bandeira do Brasil. Faixas e cartazes pediam intervenção militar pelas Forças Armadas, com Bolsonaro no poder. Em redes sociais, grupos de direita pediram contribuições para bancar a manifestação.

A passagem do prefeito de Sorocaba pela manifestação foi objeto de representação do PSOL sorocabano ao Ministério Público de São Paulo. Conforme o documento, o prefeito foi ao local para dar apoio aos manifestantes, o que configuraria crime. À reportagem, Manga disse que esteve na Raposo como prefeito da cidade, após receber queixas sobre interrupção no tráfego em área urbana.

"Fui verificar se o bloqueio estava afetando pessoas que precisavam de médico e hospital. Presenciamos que estava aberta uma via de cada lado e que a manifestação era pacífica, sem tumulto, sem bebida alcoólica."

Bloqueio de bolsonaristas na rodovia Raposo Tavares, em Sorocaba, aumentou nesta quarta-feira; empresas dão suporte e enviam suprimentos para os manifestantes. Foto: José Maria Tomazela/EstadãoManga, que é missionário da Igreja Mundial do Poder de Deus, disse que foi solicitado a fazer uma oração e rezou com os presentes. Sobre o discurso e as fotos, disse que o pessoal ficou "radiante" com sua chegada e pediu para fazer selfies. Ele confirmou que à tarde uma das pistas expressas foi liberada pelos manifestantes, após acordo com a Polícia Militar.

A Ordem dos Advogados do Brasil em Sorocaba informou em nota que é considerado crime "atentar contra o funcionamento das instituições democráticas ou do sistema eleitoral" e agentes públicos que participam, incitam ou apoiam as manifestações podem responder por ato de improbidade administrativa".

Apuração conjunta

Os promotores que atuam no inquérito civil aberto pelo Ministério Público de São Paulo para apurar quem está organizando e financiando os bloqueios de rodovias no Estado reuniram-se na noite desta terça-feira, 1, com integrantes do Ministério Público Federal (MPF) para discutir uma atuação conjunta. Isso porque as ações ilegais acontecem em estradas sob jurisdição estadual e em rodovias federais que cortam São Paulo, como a Régis Bittencourt e a Dutra.

Os promotores já têm indícios de que as ações que contestam sem provas a legitimidade das eleições são organizadas por grupos econômicos que desejam a perpetuação do governo atual. O entendimento é de que os bolsonaristas não fazem distinção entre as rodovias estaduais e federais, ocupando-se apenas de provocar uma situação de caos. A força-tarefa do MP expediu pedidos de informações aos órgãos de trânsito do Estado e da capital e às concessionárias sobre as manifestações, incluindo imagens sobre os bloqueios, na tentativa de identificar os participantes.

Já se sabe que as ações foram planejadas com a possível conivência de agentes públicos. Os promotores estaduais e federais pediram, em caráter de urgência, informações aos comandos da Polícia Militar e Polícia Militar Rodoviária de São Paulo, bem como da Polícia Rodoviária Federal que atua em território paulista sobre as ações adotadas para liberar as rodovias. O objetivo é apurar se houve inação ou omissão dos agentes responsáveis pela manutenção do direito de ir e vir e prevenção de novos bloqueios, o que poderia configurar crime de prevaricação - deixar de cumprir dever legal.

A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo informou que a Polícia Civil as investigações sobre os grupos antidemocráticos que lideram bloqueios de rodovias estão em andamento nas delegacias responsáveis pelas áreas, mas os detalhes serão preservados para garantir a autonomia ao trabalho policial.

Financiadores

Além do MPSP e do MPF, o setor de inteligência da superintendência da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no estado de São Paulo trabalha na identificação das lideranças e financiadores dos bloqueios promovidos em rodovias federais de São Paulo. Ao todo, foram registrados 12 bloqueios em estradas paulistas sob jurisdição federal - na tarde desta quarta restavam apenas três. Conforme a assessoria de imprensa da corporação, há indícios de que as ações são coordenadas por grupos, cujos integrantes estão sendo identificados.

As táticas, segundo a PRF, envolve o reagrupamentos dos manifestantes após a ação de desbloqueio para ocupar a rodovia em outro ponto. Os deslocamentos são combinados através de aplicativos de celulares, como o WhatsApp e o Telegram. Também foram identificados manifestantes que se deslocam de um bloqueio ao outro, dando suporte com material, como faixas e alimentos, às ações ilegais. Só a PRF deteve três pessoas suspeitas de incitar os bloqueios, duas na Grande São Paulo e uma no interior.

Em todo o país, até a tarde desta quarta-feira, tinham sido aplicadas 1.992 multas devido aos bloqueios. Desde domingo, 31, a PRF desfez 667 bloqueios, mas ainda restavam 150 pontos de interdição em rodovias de 17 estados.

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