O senador Alexandre Giordano (MDB-SP) vai apoiar o deputado Guilherme Boulos (PSOL), principal adversário do prefeito Ricardo Nunes, seu correligionário, na disputa pela Prefeitura de São Paulo neste ano. O parlamentar, que já foi filiado ao PSL, quando a sigla abrigava Jair Bolsonaro (PL), passou a cumprir compromissos ao lado do pré-candidato do PSOL e registrar as agendas nas redes sociais desde o ano passado.
Sócio de empresas que atuam no setor de instalação de estruturas metálicas e no de extração de minérios, Giordano foi eleito primeiro suplente na chapa encabeçada por Major Olímpio (PSL-SP), candidato bolsonarista que recebeu 9 milhões de votos em 2018. Com a morte do titular da cadeira no Senado por complicações da covid-19, em março de 2021, o empresário assumiu o mandato no Legislativo.
Amigo pessoal do ex-prefeito Bruno Covas, que morreu em 2021, Giordano foi filiado ao PSDB entre 2016 e 2018. Ele migrou do ninho tucano para o PSL para disputar como suplente do Major Olímpio. Após a morte do ex-senador, foi para o MDB. Nunes, que era vice de Covas, e Alexandre Giordano nunca foram próximos.
Em maio do ano passado, em entrevista ao podcast "Política Real", Giordano defendeu a candidatura de Boulos pelos seus "ideais políticos". "Jantamos e passamos a madrugada juntos batendo papo, e eu fui convencido por mim mesmo, pelos meus ideais políticos, que o Boulos será o melhor prefeito de São Paulo", afirmou o senador, na época.
O anúncio ocorreu depois de ele tentar criar uma dissidência no MDB para se lançar pré-candidato à Prefeitura da capital paulista. O parlamentar defendeu a realização de prévias na legenda para a escolha do candidato emedebista para o pleito deste ano.
Na época, coube ao ex-presidente Michel Temer (MDB) demovê-lo da ideia de competir contra Nunes, afirmando que a candidatura do senador poderia provocar um racha no partido. Em contrapartida, o parlamentar endossou que não apoiaria a reeleição do prefeito da capital paulista.
"Acatei o pedido do Temer para não ter racha no partido e não disputarei as prévias. Mas eu o avisei que seguirei meu projeto político e não irei apoiar Ricardo Nunes para a Prefeitura de São Paulo", disse Giordano ao jornal Folha de S.Paulo em março do ano passado.
Giordano estava presente na cerimônia de filiação de Marta Suplicy ao PT no mês passado - a ex-prefeita será vice na chapa de Boulos. O senador ficou próximo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas não foi citado pelo petista em discurso. Ele apoiou Lula no segundo turno das eleições de 2022, apesar de ter encampado a candidatura de Bolsonaro em 2018.
Ao Estadão, a assessoria de Guilherme Boulos afirmou que Giordano não vai estar no palanque do pré-candidato do PSOL. "Ele não tem participação nem cargo na campanha. É um apoiador", afirmou.
O senador Giordano e o prefeito Ricardo Nunes não responderam aos contatos da reportagem. O MDB disse que não vai se manifestar sobre o assunto.
Giordano passou de apoiador de Bolsonaro para figurinha carimbada em agendas de Boulos
Antes da guinada à esquerda, Giordano publicava nas suas redes sociais mensagens de apoio a Bolsonaro. Em janeiro de 2022, o senador fez uma postagem desejando "pronta recuperação" ao então presidente, que havia sido internado em São Paulo por conta de uma obstrução intestinal.
Em março daquele ano, o senador publicou uma foto de Bolsonaro e Nunes, agradecendo pela assinatura de um acordo que encerrou a disputa judicial pelo aerporto Campo de Marte, na capital paulista.
Depois da tentativa de realizar prévias no partido e do anúncio do apoio ao rival de Nunes, o prefeito e o ex-presidente deixaram de aparecer nas publicações de Giordano. Em contrapartida, o senador começou a publicar registros dos compromissos com Boulos e também materiais de pré-campanha do deputado.
Em uma publicação compartilhada por Giordano no Instagram, Boulos pede que apoiadores apontem problemas da gestão de Nunes.
Em outro registro, de uma reunião em que os dois participaram no Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Serviços de Asseio e Conservação e Limpeza Urbana de São Paulo (Siemaco-SP), em setembro do ano passado, o emedebista ressalta a dobradinha com Boulos. "Estaremos sempre junto ao povo paulistano, buscando melhor qualidade de vida e fazer políticas públicas de qualidade para todos."
Senador foi pivô em crise política no Paraguai
Além da mudança de lado político, o nome de Alexandre Giordano ganhou repercussão por ter sido o pivô de uma crise política que quase provocou a cassação do ex-presidente paraguaio Mario Abdo Benitez. Em 2019, o Congresso Nacional do Paraguai criou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar acordos firmados entre o governo do país vizinho e o Brasil na venda de energia excedente gerada pela Usina de Itaipu.
O ex-diretor da estatal responsável pela energia do Paraguai disse à CPI que o empresário, que ainda era suplente de Olímpio, participou de uma reunião para negociar a venda da energia excedente do país. Segundo o ex-diretor, chamado Pedro Ferreira, Giordano havia utilizado o nome de Bolsonaro para se credenciar.
O ex-diretor afirmou também que Giordano se apresentou durante o encontro como um "representante eleito" do governo brasileiro e disse que teria uma influência capaz de conseguir uma autorização para comercializar a energia excedente paraguaia no mercado brasileiro.
Na época, o senador negou ter usado o nome de Bolsonaro na reunião. Ao Estadão, ele também disse que foi ao país vizinho como "empresário interessado em comercializar a energia excedente de Itaipu" e declarou que teria desistido do negócio posteriormente.
"Não falei nada disso. Jamais. É o contrário. Quanto menos eu falar sobre política mais tenho sucesso (nos negócios). Chego em todos lugares quieto, nunca falei nada, pois sou meramente um suplente. Vivo da vida empresarial conforme já relatei", disse Giordano na época.