O jornal norte-americano The Wall Street Journal fez uma extensa análise de vídeos captados por 4 câmeras que registraram o momento em que houve a explosão que atingiu o hospital Al-Ahli, em Gaza, em 17 de outubro de 2023. O local fica num terreno adjacente ao hospital, usado como estacionamento de automóveis e que também acomodava emergencialmente doentes e feridos. A conclusão do WSJournal é que um foguete foi disparado de dentro da Faixa de Gaza em direção a Israel, teve um defeito, explodiu e fragmentos se espalharam pela área.
O incidente de 17 de outubro foi noticiado imediatamente pela mídia mundial com acusações mútuas sobre a autoria entre Hamas e Israel. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou a explosão como “ataque”, mesmo ter informações a respeito. O Itamaraty soltou nota falando em “bombardeio”.
A Organização das Nações Unidas anunciou que iria investigar o que havia se passado, mas não concluiu nada até a publicação deste post. Na internet, começaram a aparecer inúmeras imagens do local. Surgiram muitas dúvidas sobre o que teria se passado e se de fato 471 pessoas teriam morrido (no começo, o grupo extremista Hamas falou em 550).
Israel sustenta que se tratava de um míssil defeituoso disparado de dentro de Gaza pelo grupo extremista Jihad Islâmica que teria causado a explosão no hospital Al-Ahli. Tel Aviv divulgou um áudio em que 2 supostos combatentes do Hamas falam sobre o ocorrido e também um vídeo explicando o que poderia ter se passado. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ao lado do premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, disse em 18 de outubro de 2023 que a explosão não seria uma ação israelense.
A Al Jazeera (canal estatal do governo da monarquia do Qatar, que transmite notícias 24 horas em inglês) publicou uma resposta a Israel, contestando a versão sobre a explosão no hospital na Faixa de Gaza ter sido por um míssil desgovernado. A notícia da Al Jazeera, entretanto, deixava várias perguntas sem resposta, inclusive sobre qual então teria sido a origem do foguete.
Agora, com o vídeo-reportagem do WSJournal, aparecem mais indícios de que possivelmente foi mesmo um foguete disparado de dentro de Gaza que apresentou um defeito e acabou atingindo o hospital.
Assista a seguir a reportagem do WSJournal (4min12seg), em inglês. Na sequência, o Poder360 separou as imagens mais importantes e explica cada uma delas:
reprodução/WSJ O WSJournal usou 4 câmeras: geolocalizou cada uma delas e sincronizou as imagens para que mostrassem o momento da explosão no hospital Al-Ahli. O episódio ocorreu em 17 de outubro de 2023, por volta de 18h59 (horário de Gaza), 12h59 no horário de Brasília
reprodução/WSJ A câmera 1 está ao sul de Tel Aviv e apontando para a região do hospital
reprodução/WSJ A câmera 2 está em Israel, na fronteira com o norte de Gaza
reprodução/WSJ A câmera 3 é da emissora Al Jazeera e está dentro da Faixa de Gaza, apontando para a região do hospital
reprodução/WSJ A câmera 4 é de uma pessoa que gravou as imagens em seu celular na hora da explosão Com as imagens dessas 4 câmeras combinas, diz o WSJournal, é possível ver que realmente houve um lançamento de um foguete de dentro da Faixa de Gaza, que falha e causa a explosão no hospital.
Por volta das 18h59, a câmera 2 (em Israel e na fronteira com Gaza) mostra “que especialistas em balística dizem ser um lançamento de foguetes de curta distância, que são capazes de atingir alvo num raio de 12 a 25 milhas [19 km a 40 km]”.
reprodução/WSJ Câmera 2, em Israel, mostra série de lançamentos de foguetes de curto alcance a partir de Gaza e tendo como alvo o território israelense Segundo o WSJournal, “cerca de 20 segundos depois vê-se [a partir da câmera 1] o que especialistas dizem ser um ‘foguete de longo alcance sendo lançado a partir de Gaza”. Esse foguete foi disparado para fazer uma trajetória em direção a Israel. Mas “10 segundos depois do lançamento, um pequeno ‘flash’ é visto e o foguete muda a trajetória, voltando para o Oeste”. Esse ‘flash’ seria “consistente com o que ocorre com uma falha no míssil” e “não o abatimento pelo sistema de defesa Domo de Ferro”, de Israel.
reprodução/WSJ Câmera 1 capta imagem da mudança de trajetória de um míssil lançado a partir da Faixa de Gaza A mudança de trajetória foi causada pela explosão no motor do foguete, segundo o WSJournal. A partir daí, a câmera 3, da Al Jazeera, que está captando a mesma imagem, mostra uma pequena explosão. “Aí há um rastro de fogo que se espalha porque o rompimento do motor faz queimar o combustível do foguete”, segundo o jornal norte-americano.
reprodução/WSJ Câmera 3, da “Al Jazeera”, mostra o foguete que saiu de Gaza deixando um rastro de fogo, possivelmente por causa da queima de combustível depois do defeito no motor O que restou do foguete seguiu na direção do hospital Al-Ahli. Há então uma pequena explosão seguida por outra, maior. O morador que estava próximo ao local captura no seu celular o momento do impacto.
reprodução/WSJ A imagem da câmera 4, de um morador de Gaza, capta exatamente o momento em que há uma explosão no terreno adjacente ao hospital Al-Ahli “A explosão maior se dá possivelmente por causa da quantidade de combustível ainda no foguete”, explica o vídeo do “WSJournal”. Especialistas que avaliaram essas imagens acham que a cratera deixada no chão do terreno ao lado do hospital é compatível com a de um pedaço do foguete que teve a falha, inclusive por causa da direção que ficou aparecendo no terreno
reprodução/WSJ A seta na imagem indica de onde veio o foguete desgovernado, compatível com o formato do pequeno buraco aberto no local da explosão
reprodução/WSJ O tamanho do buraco, uma pequena cratera, segundo o “WSJournal”, corrobora a tese de que foi um fragmento do foguete que ficou desgovernado e aparece nas imagens das 4 câmeras usadas para fazer a reportagem
reprodução/WSJ A foto mostra por onde teriam ficado os rastros de estilhaços da queda do foguete
reprodução/WSJ Nessa imagem, o “WSJournal” mostra como podem ter ricocheteado os estilhaços do que restou do foguete ao bater no chão ao lado do hospital Al-Ahli