O mexicano Ernesto Torres Cantú está à frente das 22 operações do Citibank na América Latina. Em um momento em que a região perde importância na economia global, ele afirma que, a exemplo do Brasil, várias outras nações latino-americanas se beneficiariam de reformas estruturais - no Brasil, ele cita a tributária e a administrativa como mais urgentes.
Segundo ele, a reorganização econômica levaria ao crescimento e, no fim das contas, à redução de desigualdades. "É preciso crescer para redistribuir (renda)", afirma.
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:
O Citi saiu da operação de varejo no Brasil em 2017 e, agora, no México. Qual é a intenção por trás disso?
Vamos nos concentrar em negócios que fazemos melhor, como o atendimento a grandes companhias que têm operações internacionais. Estamos focando nos negócios com as maiores empresas do Brasil.
Mas a ideia é ir atrás de todas as grandes empresas do Brasil ou alguma área em específico?
Estamos em busca das companhias que já são multinacionais, mas há oportunidades nas fintechs, que crescem em outros países de maneira muito rápida - podemos ajudá-las muito nesse processo.
O atual momento do Brasil é negativo, com especialistas apontando até uma recessão em 2022. Como o senhor enxerga isso?
Os números são o que são. Mas o Brasil tem vários "Brasis" não apenas geograficamente, mas também (pelo desempenho) de setores. O País tem companhias líderes não só aqui, mas em diversos lugares do mundo.
Como é presidir um banco na América Latina, em momento em que a região perde relevância econômica?
Em geral, as companhias da América Latina que têm negócios fora da região estão indo bem. Mas quando você vê os números da América Latina, é correto falar em momento difícil. Recuperar o crescimento na América Latina é importante não só pela relevância, mas para consertar problemas da região, como a desigualdade. É preciso crescer para redistribuir.
Qual é o papel do setor privado nessa discussão?
É muito relevante, pois as empresas criam empregos. Quanto mais posições criadas e com um salário mais alto, menos desigualdade. Mas precisamos estar em um cenário positivo. É mais fácil de investir em um país quando você tem chances de retorno. No caso do Brasil, é por isso que precisamos ter reformas, como a tributária e a administrativa.
Como o sr. vê o atual momento conturbado da política na América Latina?
Isso acontece em todo o mundo porque as posições estão cada vez mais polarizadas. Antes, a maior parte das posições era mais ao redor do centro. Agora você tem mais uma distância grande entre os polos. O que é importante de acontecer, e não tem acontecido em alguns países, é que as pessoas no poder negociem.
Havia euforia com o Brasil e a América Latina há dez anos. Há chances de se retomar esse ciclo positivo?
Os preços das commodities estavam em um dos mais altos patamares já vistos. Isso ajudou não só o Brasil, que foi o maior beneficiado, mas outros países da região. Mas ciclos são ciclos por causa dos altos e baixos. É parecido com a economia de uma pessoa. Se o ano foi ótimo e alguém começou a ganhar mais dinheiro, não pode aumentar seu padrão de consumo na mesma velocidade. Afinal, se o período de baixa vier, terá problemas. Foi isso o que aconteceu na região. Por isso que as reformas são importantes para o Brasil ser sustentável tanto em anos ótimos quanto em outros não tão bons.
Como o sr. enxerga o andamento das reformas?
Quando o atual governo aprovou a reforma da Previdência, trouxe muito otimismo de que se estava indo na direção certa. Agora, as outras reformas estão se mostrando mais complicadas, ainda mais em ano eleitoral. Mas vejo esses tópicos muito presentes nos debates públicos, o que é muito importante.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.