Embraer mantém previsões para 2025 após evitar tarifa mais alta dos EUA
Por Rodrigo Viga Gaier e Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - As ações da Embraer (BVMF:EMBR3) chegaram a desabar mais de 8% nesta quinta-feira, reagindo ao anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na véspera, de uma tarifa de 50% para todos os produtos brasileiros enviados aos EUA, com analistas citando a empresa como uma das mais afetadas.
Analistas do Bradesco BBI afirmaram que a Embraer é, dentro da cobertura do setor de bens de capital, a empresa mais exposta às exportações para os EUA, com cerca de 60% da receita vinda da América do Norte.
Em nota a clientes, eles estimaram um impacto potencial de aproximadamente US$220 milhões no lucro antes de juros e impostos (Ebit) de 2025, cerca de 35% do total estimado para o ano. O prognóstico considera que a tarifa entre em vigor em agosto, o que limitaria o impacto a apenas uma parte do ano.
A Embraer afirmou que está avaliando os possíveis impactos em seus negócios da possibilidade de aumento de tarifa anunciada pelo governo norte-americano sobre os produtos brasileiros, caso o decreto se aplique à indústria de aviação no Brasil.
"Tais impactos serão abordados em nossa próxima conferência de resultados do segundo trimestre, no dia 5 de agosto", disse em nota. "A empresa está trabalhando com as autoridades competentes visando reestabelecer a alíquota zero dos impostos de importação para o setor aeronáutico", acrescentou.
Os papéis da fabricante de aeronaves encerraram o pregão desta quinta-feira em queda de 3,7%, a R$75,32, após serem negociados a R$71,63 na mínima do dia mais cedo (-8,41%), selando o pior desempenho do Ibovespa, que cedeu 0,54%. No ano, a ação da Embraer ainda acumula um ganho de 34%.
Analistas do JPMorgan (NYSE:JPM) estimaram um impacto potencial de cerca de 13% na receita da fabricante brasileira de aviões.
Marcelo Motta e Jonathan S. Koutras ponderaram que a previsão assume que todas as vendas do jato Praetor (cerca de 18% da receita) são para clientes dos EUA e que o jato comercial E175 (cerca de 9% da receita) também sofreria queda de demanda.
Eles destacaram que o impacto potencial de uma tarifa de 50% sobre as exportações do Brasil para os EUA varia entre os diferentes segmentos de negócios da Embraer.
Na aviação comercial, citaram, que respondeu por 35% da receita em 2024 e 12% do Ebit, os contratos da Embraer incluem cláusulas que permitem o repasse de tarifas de importação aos clientes.
Como ponto positivo, a equipe do JPMorgan lembrou que o jato E175, responsável por cerca de 9% da receita de 2024, totalmente fabricado no Brasil, não possui concorrente certificado, o que confere à Embraer forte poder de precificação.
Na família E2, acrescentaram que a empresa enfrenta concorrência do A220 da Airbus (EPA:AIR), mas não possui clientes nos EUA.
Quanto aos jatos executivos, Motta e Koutras citaram que a montagem final ocorre em Melbourne, Flórida -- os Phenoms são 100% fabricados nos EUA, enquanto os Praetors têm entre 60% e 70% de conteúdo da América do Norte, principalmente dos EUA.
"No entanto, como partes do processo são fabricadas no Brasil, esse segmento é mais impactado pelas tarifas, o que pode pressionar as margens", estimaram no relatório enviado aos clientes do banco.
"Segundo nossos cálculos, uma tarifa de 50% sobre essas peças representaria uma redução significativa nas margens, com impacto de até 15% no Ebit dos jatos executivos no pior cenário."
Em defesa, esclareceram que a Embraer não possui vendas diretas para os EUA nesse segmento.
Em relação ao segmento de serviços e suporte, afirmaram que as peças importadas do Brasil para atender clientes nos EUA também podem ser impactadas.
"Assumindo que 25% da receita de serviços e suporte nos EUA seja representada por importações do Brasil, o impacto estimado seria de cerca de 5% no Ebit desse segmento", calculam.