Por Geoffrey Smith
Investing.com – As ações e títulos dos bancos europeus abriram as negociações desta segunda-feira, 20, em forte queda, após as autoridades suíças agirem para evitar o colapso do Credit Suisse , levantando dúvidas em grande parte do mercado em relação aos papéis do setor.
O órgão regulador do sistema financeiro da Suíça, Finma, afirmou, no domingo, que cerca de US$ 17 bilhões em títulos de nível 1 emitidos pelo Credit Suisse Group (SIX:CSGN) perderiam o valor integralmente, como parte de um acordo para vender o banco problemático para seu concorrente local UBS (SIX:UBSG). Mesmo assim, os acionistas devem receber alguma compensação por seus papéis.
O movimento desencadeou uma forte queda no mercado de AT1 de US$ 200 bilhões na Europa, nesta segunda-feira, com os investidores vendendo papéis de outros bancos. Embora a baixa liquidez tenha tornado difícil quantificar as perdas, operadores disseram que os preços tiveram uma remarcação para baixo de 20 centavos de euro ou dólar.
Também houve fortes oscilações nas ações bancárias, com o UBS sendo uma das instituições mais afetadas, chegando a despencar quase 14%. Às 8h50 de Brasília, no entanto, os papéis do banco no mercado acionário suíço recuavam 3,80%.
Em geral, os acionistas são os primeiros a perder dinheiro na quebra de um banco, e seus credores e depositantes só assumem prejuízos depois que o patrimônio da instituição foi reduzido a zero. No entanto, os termos dos títulos emitidos pelo CS expressamente declaravam que os papéis teriam menos prioridade em relação às ações, um ponto que parece ter sido negligenciado pelo menos por alguns detentores da dívida.
“O problema agora é como calcular o risco”, declarou um trader de títulos europeus ao Investing.com.
“Antes de ontem, sabíamos que o risco de AT1 se baseava nos níveis PONV e CET1”, explicou, referindo-se à crença geralmente assumida de que os órgãos reguladores só imporiam prejuízos aos titulares de títulos AT1, se o nível de capital de um banco (ações comuns de nível 1, CET1) caísse até o que as autoridades chamam de “ponto de não viabilidade”. A Finma, no entanto, empregou uma interpretação dos termos dos AT1 do CS para ordenar o resgate em um ponto anterior.
A gestão do caso do CS faz com que os títulos AT1 estejam agora mais expostos aos riscos econômicos mais amplos e “tais vulnerabilidades são mais difíceis de compreender e precificar”, concluiu o trader.
“Esse movimento era definitivamente inesperado”, afirmou Gildas Surry, sócio da Axion Alternative Investments, em uma entrevista à Bloomberg TV. “Há um problema de confiança em relação às autoridades”.
Os títulos AT1 geralmente não são detidos por investidores de varejo, mas são populares entre indivíduos de elevado patrimônio líquido e fundos institucionais especializados, atraídos por seu retorno mais alto. Os bancos europeus emitiram esses papéis com bastante frequência na última década, a fim de promover seus níveis de capital de absorção de perdas, sem expandir seu número de ações ou diluir os retornos. A forte queda nos preços dos títulos AT1 eleva o custo geral de capital para os bancos.
Dois outros grandes emissores de títulos AT1, ING (AS:INGA) e Deutsche Bank (ETR:DBKGn), viram suas ações caírem 6,6% e 6,2%, respectivamente, enquanto Barclays (LON:BARC) e Societe Generale (EPA:SOGN) 5,5% e 4,4%, respectivamente.