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AES Tietê nega fusão com Eneva, mas provoca por oferta maior e em dinheiro

Publicado 20.04.2020, 11:38
© Reuters. Logo da multinacional norte-americana AES, cuja controlada AES Tietê pretende combinar negócios com a Eneva
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Por Luciano Costa

SÃO PAULO (Reuters) - A AES Tietê decidiu rejeitar oferta apresentada pela Eneva (SA:ENEV3) para combinação dos negócios das companhias, mas estaria disposta a continuar negociações se houver melhoria nos valores e na estrutura da proposta, disseram executivos da companhia nesta segunda-feira.

A Eneva divulgou em 1° de março uma oferta hostil para fusão de seus ativos com os da AES Tietê, da norte-americana AES, em transação que envolveria total de 6,6 bilhões de reais, com pagamento de 2,75 bilhões de reais em dinheiro e o restante em ações.

Mas o conselho da AES Tietê decidiu de forma unânime contra a operação, questionando tanto o interesse estratégico do negócio quanto o preço e o formato da transação, principalmente a previsão de pagamento parcial em ações da Eneva. [nL1N2C8076]

"Tem a questão do preço, antes de mais nada. A oferta de troca de ações coloca a AES Tietê um valor muito abaixo do que a gente entende ser o valor correto da companhia", disse à Reuters a diretora financeira e de Relações com Investidores da empresa, Clarissa Della Nina.

"O conselho tentou avaliar todas alternativas possíveis para continuar essa conversa. E, uma proposta 100% em dinheiro, que a gente chama 'com liquidez', num patamar de valor adequado para os ativos da AES Tietê, pode ser uma proposta que faça sentido para os acionistas", acrescentou ela.

"O conselho entendeu que valia a pena fazer esse tipo de provocação... nosso CEO encaminhou ontem uma carta para a Eneva, com o parecer do conselho, e convidando para uma reunião tão logo eles tenham interesse... justamente para continuar com essa conversa."

Mais tarde, o presidente da AES Tietê, Ítalo Freitas, disse em teleconferência com investidores que uma eventual fusão como a pretendida pela Eneva criaria uma nova empresa muito alavancada e com modelo de negócios mais arriscado que o da companhia atualmente.

"Acreditamos, portanto, que deveria haver um mecanismo na oferta da Eneva que permita a acionistas da AES Tietê que desejam liquidez, mas não estão confortáveis em se tornarem acionistas da Eneva, que possam receber 100% em dinheiro".

O presidente da AES Tietê também afirmou que a pandemia de coronavírus aumenta riscos e incertezas associadas à transação e atrapalha as negociações.

"Num momento como esse, acreditamos que o foco de nosso conselho de administração devia estar 100% em nosso negócio e não em distrações como a proposta hostil da Eneva. Se a proposta já era pouco atrativa antes da crise, fica menos atraente no presente momento", afirmou.

Segundo Freitas, o atual cenário dificulta a obtenção pela Eneva de financiamento para o negócio, ao mesmo tempo em que atrapalha uma eventual busca da AES Tietê por outros interessados em seus ativos, que poderia agregar competição ao processo e potencialmente aumentar os ganhos da empresa.

"Há baixa probabilidade de que encontraríamos outros potenciais compradores para competir com a Eneva e dessa forma gerar mais valor para nossos acionistas", disse o CEO.

Os executivos da AES Tietê também destacaram em diversas ocasiões que avaliam que os ativos da empresa têm maior valor de longo prazo que os da Eneva devido a seu portfólio concentrado em renováveis.

SINERGIAS MENORES

A Eneva estimou que a fusão poderia gerar sinergias de 3,1 bilhões de reais, disse a AES Tietê, que questionou os cálculos em nota enviada à imprensa nesta segunda-feira.

"De acordo com as contas apresentadas pelos bancos e consultorias contratados pela companhia, as sinergias resultantes da operação seriam cerca de 70% a 75% inferiores ao valor estimado no relatório disponibilizado pela Eneva, e, mesmo assim, obtido à custa da demissão de colaboradores".

A companhia também destacou que a empresa fruto da combinação de negócios teria alavancagem equivalente a cinco vezes a geração de caixa, considerada elevada.

"Essa alavancagem impossibilitaria, ainda, o crescimento da empresa e a manutenção da política de distribuição de dividendos à qual os acionistas da AES Tietê se habituaram", afirmou.

A Eneva vinha defendendo que a transação poderia gerar uma empresa com ativos altamente complementares, ao combinar seu portfólio de termelétricas a gás e carvão com as usinas hidrelétricas, eólicas e solares da AES Tietê, mas essa visão também foi questionada pela elétrica da AES.

"Essa suposta complementaridade só beneficiaria os acionistas da Eneva, diluindo o risco inerente a suas atividades, em detrimento dos acionistas da AES Tietê. A AES Tietê é a empresa mais bem posicionada para o futuro – a Eneva, por sua vez, representa o passado da geração elétrica."

© Reuters. Logo da multinacional norte-americana AES, cuja controlada AES Tietê pretende combinar negócios com a Eneva

A AES Tietê disse que analisou a oferta com assessoria dos bancos Bradesco BBI, BNP Paribas (PA:BNPP) e Santander (SA:SANB11) e das consultorias especializadas Thymos e Mercurio, além do escritório de advocacia Cescon, Barrieu, Flesch e Barreto Advogados.

(Por Luciano Costa)

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