Por Paula Arend laier
SÃO PAULO (Reuters) - As ações da Ambev (SA:ABEV3) chegaram a cair mais de 9% nesta quinta-feira, após a fabricante de bebidas reportar lucro líquido 4,2 bilhões no quarto trimestre, uma alta de 22% em relação ao mesmo período de 2018, mas aumento de custos, que devem continuar pressionando no primeiro trimestre de 2020.
Em termos ajustados, a fabricante de bebidas apurou elevação de 24,4% no lucro líquido dos últimos três meses de 2019, para 4,6 bilhões de reais, em resultado influenciado por uma menor despesa de imposto de renda.
O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado totalizou 6,9 bilhões de reais, queda de 9,3%, com a margem Ebitda ajustado caindo para 43,7% de 47,6% no último trimestre do ano anterior.
"A margem Ebitda foi impactada principalmente pelo maior custo do produto vendido decorrente de preços de commodities e taxa de câmbio significativamente desfavoráveis", citou a empresa no material de divulgação do balanço.
Por volta das 11:20, as ações despencavam 9,3%, a 14,35 reais, maior queda do Ibovespa, que cedia 1,64, ainda pressionado pelas apreensões sobre os potenciais efeitos da disseminação do coronavírus na atividade econômica global. Na mínima até o momento, as ações chegaram a 14,33 reais.
Analistas esperavam, em média, lucro líquido de 4,2 bilhões de reais e Ebitda de 7 bilhões de reais, conforme dados da Refinitv.
A receita líquida somou 15,86 bilhões de reais, queda de 1% ano a ano, enquanto o volume cresceu 3,4%, para 47,3 milhões de hectolitros. Apesar da queda no valor reportado, a companhia disse que a receita teve um crescimento orgânico de 5,7%.
A Ambev informou que o custo por produto vendido (CPV) cresceu 11,9% de outubro a dezembro frente ao mesmo intervalo de 2018, refletindo pressões inflacionárias na Argentina, taxa de câmbio e elevação dos preços de commodities.
As despesas com vendas, gerais e administrativas registraram aumento de 15,2% no último trimestre do ano passado frente ao mesmo período do exercício anterior.
No Brasil, a receita líquida reportada totalizou 8,9 bilhões de reais, crescimento de 2,8%, enquanto o volume aumentou em 4,7%, para 31,4 milhões de hectolitros.
O volume de cerveja no país subiu 1,4%, para 23,6 milhões de hectolitros, com a receita mostrando acréscimo de 1,2%.
PERSPECTIVAS
Para 2020, a Ambev disse que espera continuar enfrentando pressões sobre o custo em Cerveja Brasil, "ainda que em menor intensidade do que no ano anterior, dado que teremos um impacto favorável de commodities. A taxa de hedge média para 2020 é de 3,96 reais por dólar contra 3,61 reais para 2019.
A companhia também afirmou que esperamos retomar o crescimento do Ebitda de Cerveja Brasil no ano de 2020. "Entretanto, no primeiro trimestre de 2020 vamos enfrentar a maior pressão sobre o custo do produto vendido do ano."
De acordo com a empresa, tal contexto, em conjunto com investimentos em vendas e marketing mais concentrados no início do ano, deve gerar uma redução do Ebitda de Cerveja Brasil entre 17% e 20% no primeiro trimestre de 2020.
"Ao longo do ano, esperamos que nosso desempenho melhore gradualmente, na medida em que a pressão sobre o custo do produto vendido arrefeça, assim como o faseamento das despesas de vendas e marketing se normalize."
Na visão de analistas do BTG Pactual (SA:BPAC11), o cometário cauteloso da companhia deve adiar o 'momentum' dos lucros por pelo menos outro trimestre, provocando mais revisões de baixa nas previsões para os resultados.
"Isso mais uma vez ressalta o quão mais difícil o mercado de cervejas no Brasil se tornou com o fim do monopólio virtual da Ambev, crescimento do canal doméstico, erosão do valor da marca no 'mainstream' e na falta de escalabilidade no prêmio, o que coloca o notável poder de preço da Ambev e margens operacionais em risco", escreveram Thiago Duarte e Henrique Brustolin.