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Analistas minimizam risco de Vale ter maiores impactos por avanço da Covid no Brasil

Publicado 18.06.2020, 16:45
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Por Luciano Costa

SÃO PAULO (Reuters) - Preocupações com maiores impactos do avanço da pandemia de coronavírus no Brasil sobre operações da Vale (SA:VALE3) têm impulsionado os futuros do minério de ferro na China desde meados do mês passado, mas alguns analistas minimizaram riscos para a mineradora em relatórios nos últimos dias.

A China, maior compradora dos produtos da Vale, tem visto uma recuperação nos níveis de atividade depois de duras medidas de isolamento que conseguiram controlar inicialmente o vírus, e há expectativas de que um grande pacote de estímulos à economia no país possa sustentar a demanda por minério de ferro.

O otimismo sobre o apetite dos chineses pela commodity vem em momento em que o Brasil ainda vê casos e mortes crescentes por Covid-19 --o país ultrapassou o Reino Unido neste mês e tornou-se o segundo país do mundo mais afetado pela doença, atrás apenas dos Estados Unidos.

Em meio a esse cenário, a Vale chegou a ter um complexo em Itabira (MG) interditado por decisão judicial em 5 de junho, após procuradores estaduais do Trabalho terem apontado riscos de contaminação entre operários, uma vez que exames detectaram uma série de casos do vírus nas minas.

Mas a desinterdição das unidades, informada pela empresa na noite de quarta-feira, ajudou a aliviar tensões.

"Ainda há um risco de que medidas similares possam ser impostas sobre outros complexos da Vale em Minas Gerais, ou mesmo em Carajás (PA), uma vez que novos casos continuam elevados em cidades próximas", escreveram analistas do Credit Suisse em relatório na quarta-feira.

"Mas, assim como em Itabira, quaisquer potenciais interdições relacionadas à Covid-19 devem ser rapidamente revertidas em nossa opinião, não apenas por causa das medidas já sendo adotadas para conter o vírus, mas porque a mineração foi considerada um serviço essencial pelo governo", acrescentaram.

Visão semelhante foi expressa por analistas do UBS também na quarta-feira, antes da desinterdição --eles projetaram rápida retomada em Itabira, ao citar pressão da secretaria de Finanças da cidade pela volta às operações, uma vez que as minas da Vale respondem por 21% da receita fiscal municipal.

"Apesar do panorama ainda desafiador, cidades maiores estão começando a reabrir negócios. Ao longo da última semana, houve evidências limitadas de possíveis interrupções adicionais no suprimento emergindo devido à Covid-19", apontaram.

"O aumento nos casos (em Itabira) pode estar relacionado à ampla testagem da Vale em sua força de trabalho, enquanto o restante do Brasil promove poucos testes."

Procurada, a Vale disse que "adotou padrões de segurança de nível mundial" contra o vírus. As ações incluem redução do contingente em campo, uso de máscaras e 86 câmeras térmicas nas operações em Minas Gerais, Pará, Espírito Santo e Maranhão, para identificar pessoas com alta temperatura corporal, além de triagem na chegada de operários e outras medidas.

Antes, a Vale já havia dito que faz "testagem em massa de seus empregados no Brasil", com mais de 75% da força de trabalho própria e de terceiros submetida a exames até 5 de junho.

Até a quarta-feira, o Brasil registrava 46.510 mortes por coronavírus, com 1.269 fatalidades em 24 horas. Foram 31,18 mil novos casos no dia, levando o total a quase 955,4 mil.

PARÁ E MINAS

Ao sinalizarem baixos riscos de novas paralisações de oferta nos próximos dias, analistas do UBS disseram que têm monitorado os óbitos por coronavírus no Pará e em Minas Gerais, onde estão as operações de minério de ferro da Vale.

"Mortes por Covid-19 no Pará e em Minas Gerais (cerca de 100% da produção de minério de ferro no Brasil) desaceleraram nos últimos dias, após subirem no início do mês", destacaram, com base na média móvel de 7 dias dos registros de falecimentos.

O Pará é o quarto Estado brasileiro em casos acumulados de Covid-19, enquanto Minas Gerais aparece na 13° colocação, dentre 27 unidades da federação, segundo dados do Ministério da Saúde.

Mas mesmo a necessidade de fechamento temporário de minas poderia não ter impacto relevante sobre a Vale, uma vez que tal evento teria como impacto um aumento nos preços do minério de ferro, projetaram analistas da Fitch Ratings.

As preocupações com o Brasil têm dado o tom dos pregões na bolsa chinesa de Dalian, onde o minério de ferro recuou 1% nesta quinta-feira com a notícia da desinterdição em Itabira.

"Uma menor produção de minério de ferro no Brasil, resultante de crescentes infecções por coronavírus, deve afetar apenas marginalmente o fluxo de caixa da Vale e outras mineradoras globais devido a preços mais altos", disse a Fitch.

A agência de risco projetou que a Vale deve gerar lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de 14 bilhões de dólares em 2020, levando em conta minério de ferro a uma média de 75 dólares por tonelada.

Os números, no entanto, "podem se mostrar conservadores dada a alta nos preços do minério de ferro", observaram.

Os preços da commodity na bolsa chinesa de Dalian acumulam alta de 32% no segundo trimestre.

Mas as cotações poderiam ficar "sob pressão" caso as expectativas de interrupções na produção da Vale não se confirmem, ressaltaram em nota analistas da ANZ.

Apesar da tensão com o coronavírus, a Vale informou na véspera que mantém sua projeção de produção de minério de ferro em 2020, em entre 310 milhões e 330 milhões de toneladas --no seu guidance, a companhia já fez um provisionamento de perdas associadas à pandemia em 2020 de até 15 milhões de toneladas.

A meta da companhia foi reduzida em abril, após volumes menores no primeiro trimestre, impactado por questões operacionais e climáticas, como chuvas. Antes, a projeção de produção da empresa era de entre 340 milhões e 355 milhões de toneladas.

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Anteriormente, a Vale disse à Reuters que está "enfrentando o desafio da Covid-19, atuando em suas operações com um contingente mínimo de pessoas de forma a manter apenas as atividades com segurança". Questionada na semana passada sobre o efetivo de funcionários nas minas, a empresa afirmou que tinha cerca de 60% de trabalhadores nas operações.

(Com reportagem adicional de Roberto Samora)

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