SÃO PAULO (Reuters) - As montadoras de veículos no país divulgaram nesta sexta-feira projeções contidas de crescimento de venda e produção em 2022, citando incertezas decorrentes da pandemia e a crise na oferta de componentes eletrônicos, além da fraca atividade econômica.
A expectativa do setor para este ano é de crescimento de 9,4% na produção, para 2,46 milhões de carros, comerciais leves, caminhões e ônibus, e de avanço de 8,5% nos licenciamentos, para 2,3 milhões de unidades. A previsão para exportações é de alta de 3,6%, para 390 mil unidades, longe do pico de cerca de 630 mil atingido em 2018.
A previsão de vendas inclui expectativa de que os veículos pesados (caminhões e ônibus) terão expansão de 10%, para 157 mil unidades. Considerando apenas caminhões, segmento menos afetado pela crise dos chips e ajudado pelos efeitos da pandemia no mercado de logística, a expectativa é de alta de cerca de 9% nos licenciamentos em 2022, a 140 mil veículos, segundo a Anfavea.
Os números baseiam-se em uma previsão de crescimento do PIB do país de 0,5% e em uma Selic a 11% no final do ano.
"A previsão tem que ser vista com cautela...Vamos tentar promover a retomada da melhor forma possível", afirmou o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, a jornalistas.
Segundo ele, a crise na oferta de chips continua e as montadoras só conseguem ter uma previsão de oferta "de quatro semanas" e não descartou eventuais novas paradas de fábricas por causa do problema e por eventuais reimposições de medidas de isolamento social devido à pandemia. "Vamos ter muitas emoções no primeiro semestre", disse Moraes.
O setor terminou dezembro com estoque de 114,3 mil veículos, equivalente a 16 dias de vendas, nível bem baixo diante do comportamento pré-pandemia, quando o volume em estoque girava na casa dos 40 dias.
Considerando apenas dezembro, a produção subiu 2,5% ante novembro e 0,8% sobre um ano antes, para 210,9 mil unidades. Em vendas houve crescimento de 19,7% ante novembro, mas recuo de 15,1% ante dezembro de 2020, para 207,1 mil veículos. No ano, as vendas cresceram 3%, enquanto a produção evoluiu 11,6%.
Segundo Moraes, em 2021, pela primeira vez na história, o Estado de São Paulo não liderou as vendas de veículos no país, cedendo o posto a Minas Gerais e amargando uma queda de 8%.
O executivo mostrou dados que indicam que todos os Estados ao redor de São Paulo tiveram registros de crescimento nos emplacamentos, com destaque para o Rio de Janeiro, com alta de 23%, enquanto em Minas Gerais houve expansão de 13%.
"Isso foi provocado, em especial, pelo ICMS maior que São Paulo resolveu adotar em 2021", disse o Moraes, citando que o imposto subiu de 12% a 14,5% para veículos novos, em um pacote de ajuste fiscal realizado pelo governo paulista.
"Os dados confirmam a indicação que tínhamos que os licenciamentos passariam a ocorrer em outros Estados", acrescentou o presidente da Anfavea.
Questionado sobre negociações de ajustes de preços do aço com siderúrgicas, que segundo alguns participantes do mercado são de acima de 50%, Moraes disse que as montadoras "vão brigar por cada centavo" porque "as condições dos consumidores são limitadas e o mercado não absorve mais aumentos".
Ele não deu detalhes sobre o nível de reajuste defendido ou quando as discussões, que costumam ser concluídas entre o final e o início de cada ano, serão finalizadas.
Em 2021, segundo dados citados pela Anfavea com base em levantamentos da empresa de pesquisa KBB, os preços de veículos novos no Brasil subiram cerca de 9%, avançando 14% no acumulado de dois anos de pandemia, puxados por altas de custos e insumos e pelas dificuldades no fornecimento de componentes.
(Por Alberto Alerigi Jr.)