BRASÍLIA (Reuters) - O ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas, disse nesta quinta-feira que protestos para defender o impeachment da presidente Dilma Rousseff cheiram a "golpe" e isso é "inadmissível".
A avaliação do ministro, que é responsável pela articulação política do governo, ocorre três dias antes das manifestações contra a petista que estão sendo convocadas no Brasil inteiro, e um dia depois do PSDB, maior partido de oposição, ter chamado sua militância para integrar os protestos.
"Há uma presidente no exercício do seu cargo e ungida pelas urnas. E falar em impeachment, com todo respeito, é desrespeitar a vontade majoritária da população brasileira que foi às urnas, é algo que cheira a golpe e isso é inadmissível", disse o ministro a jornalistas nesta quinta-feira, após participar de um café da manhã com líderes aliados da Câmara.
Questionado se todos que forem às ruas no domingo pedindo o impeachment seriam golpistas, o ministro afirmou que não acredita que só haverá manifestantes pedindo isso nas ruas.
"Acho que não vai todo mundo para a rua no domingo a favor do impeachment. Essa é a tese de alguns da oposição sim", argumentou.
Pepe é o primeiro ministro a classificar as manifestações pró-impeachment como "golpe". Esta semana, a presidente e o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, disseram que a contestação do resultado das urnas seria um "terceiro turno" das eleições.
A manifestação do ministro ocorre um dia depois de o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), convocar a militância tucana para ir às ruas protestar contra o governo.
Aécio, que perdeu as eleições presidenciais no segundo turno para Dilma, disse que não irá aos protestos para não reforçar o discurso de terceiro turno do governo.
O governo acompanha com apreensão as manifestações convocadas para domingo, ainda mais depois de a presidente ter sido vítima de protestos e panelaços em várias cidades do país enquanto fazia um pronunciamento na TV no último domingo.
Uma fonte do governo disse à Reuters, sob condição de anonimato, que Dilma pediu aos principais ministros que permaneçam em Brasília no domingo para analisar a repercussão e o impacto das manifestações.
Uma outra fonte do Palácio do Planalto afirmou à Reuters, também pedindo para não ter seu nome revelado, que o governo está monitorando nas redes sociais as convocações para os protestos.
"O que estamos vendo é que há muitos robôs operando nas convocações e tentando inflar os protestos", disse a fonte.
Dilma enfrentará a onda de protestos no momento em que o governo passa por uma crise política com o Congresso, tenta levar adiante uma série de medidas para fazer um forte ajuste fiscal e vê sua popularidade no menor nível.
Uma pesquisa do instituto Datafolha mostrou no começo de janeiro que apenas 23 por cento da população considera a gestão da petista como ótima ou boa.
(Reportagem de Jeferson Ribeiro)