SÃO PAULO (Reuters) - A Associação dos Funcionários do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (AFBNDES) rechaçou nesta segunda-feira a justificativa usada pelo banco para afastar a chefe do departamento responsável pela gestão do Fundo Amazônia, Daniela Baccas, alegando que o motivo encobre o que chamou de "ingerência do Ministério do Meio Ambiente" no BNDES.
No sábado, o banco de fomento afastou Daniela após o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, defender na sexta-feira uma revisão nos critérios de contratação de entidades a serem beneficiadas pelo Fundo Amazônia, citando irregularidades no uso e na liberação dos recursos, executados pelo BNDES.
"A nota pública divulgada pelo banco para justificar a medida é extremamente insatisfatória e funciona como uma racionalização precária para o que de fato é uma ingerência do Ministério do Meio Ambiente no BNDES", afirmou a associação em nota.
O Fundo Amazônia, que gere 1,3 bilhão de reais, reúne doações de empresas e países --entre os quais Noruega e Alemanha, principalmente. Os recursos são repassados a entidades, tanto organizações não-governamentais (ONGs) quanto governamentais, pelo BNDES, para uso em ações de combate do desmatamento na região amazônica.
Ainda segundo a nota da associação, o Fundo Amazônia é um dos mecanismos financeiros com maior controle no país, passando por duas auditorias independentes anualmente nas áreas financeiras e de compliance.
Adicionalmente, a AFBNDES cita avaliações realizadas recentemente pela embaixada da Noruega e pelo banco de desenvolvimento da Alemanha que demonstraram resultados positivos sobre o Fundo, e também auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em 2018, que não indicou qualquer tipo de irregularidade.
"O BNDES destitui uma funcionária exemplar de suas funções com base em um blefe do ministro do Meio Ambiente", afirmou a entidade, alegando que as acusações de Salles são "vagas e superficiais".
"O comportamento truculento e persecutório de Ricardo Salles era também de conhecimento da diretoria do BNDES, uma vez que, em mais de uma oportunidade, aproveitou visitas ao banco para tentar intimidar empregados do BNDES a fornecer informações sem respeito a qualquer protocolo administrativo", afirmou a AFBNDES.
Um protesto foi convocado para a tarde desta segunda-feira na sede do banco no Rio de Janeiro em "defesa do BNDES, do desenvolvimento, da democracia e pela recondução de Daniela Baccas a chefia do departamento de Meio Ambiente".
(Por Laís Martins)