O ano de 2021 foi difícil para o Sport. O time caiu pela sexta vez para a segunda divisão, perdendo, assim, 80% de sua receita em 2022. Ao prejuízo financeiro se soma a conturbada vida administrativa do clube, que teve até uma recente renúncia presidencial. Ainda assim, a gestão do clube pernambucano promete para 2022 colocar as contas em dia, realizar uma transformação digital e voltar a estar entre as grandes equipes do País.
Para isso, o Sport se alinha a uma movimentação que tem atraído grandes consultorias e até bancos de investimento, que passaram a ver o futebol como oportunidade de negócio.
Este cenário tem relação com a aprovação da Sociedade Anônima do Futebol (SAF), que permitiu aos clubes terem investidores externos tocando a sua área de futebol. Um desses investidores é o BTG Pactual (SA:BPAC11), que criou em 2021 a joint venture Win The Game com o empresário Claudio Pracownik, executivo com passagens por diversos bancos (incluindo o próprio BTG) e ex-vice-presidente de finanças do Flamengo.
A empresa assinou contratos com Sport e Fortaleza para tocar projetos de marketing, transformação digital, governança e reestruturação. "Não temos a intenção de virar uma SAF agora, mas queremos deixar tudo pronto caso apareça uma boa oportunidade", diz Eleuberto Martorelli, vice-presidente financeiro do Sport.
Pracownik vê essa como a maior oportunidade de negócio para o futebol no curto e médio prazos. "Vamos usar os dados e inteligência artificial para criar um valor maior para o clube e seus patrocinadores."
Sobrevivência
Ainda que a criação da SAF (e os investimentos já confirmados em Cruzeiro, Botafogo e Vasco) tenha movimentado o mercado, para Pracownik, especialista do setor, a melhor opção agora é arrumar a casa visando a melhores investimentos no futuro. "É como se você fosse vender um carro: se trocar os pneus e fizer uma revisão, provavelmente conseguirá um valor maior", diz Pedro Daniel, sócio da consultoria EY.
A EY, que trabalhará com a Win The Game na gestão do Sport, atuou na reestruturação de Flamengo, Palmeiras e Atlético-MG, equipes entre as maiores vencedoras dos últimos anos e apontadas como as mais organizadas fora de campo, o que se vê nos números. Segundo a consultoria Sports Value, Flamengo, Palmeiras e o Atlético-MG valem R$ 2,7 bilhões, R$ 2,3 bilhões e R$ 1,9 bilhão, respectivamente. "Hoje, os clubes sentem a necessidade para aumentar a eficiência e as conversas com eles se tornaram mais naturais", diz Daniel, da EY.
Este cenário atraiu uma das consultorias mais importantes no ramo de reestruturação de empresas, a Alvarez & Marsal, que contratou em 2021 o executivo Fred Luz, que já foi CEO do Flamengo. Desde então, a companhia já trabalhou com Cruzeiro, Coritiba e Figueirense. A atuação é, principalmente, na gestão financeira e reestruturação das dívidas. "Entramos com os clubes como entramos com as empresas. No fundo, o que o Brasil precisa no futebol é de reestruturação", diz Luz.
Na visão dos especialistas, fazendo a lição de casa, os clubes podem aproveitar um ótimo momento para investimentos. Segundo Guilherme Ávila, sócio da área de esportes da XP Investimentos (SA:XPBR31), hoje há muito mais investidores procurando por clubes do que o contrário.
Por isso, a XP quer atuar como assessoria financeira, conectando uma ponta a outra, como fez com Cruzeiro e Botafogo (vendido ao empresário americano John Textor). Para Ávila, o sucesso desses clubes será fundamental para o crescimento do mercado. "A oferta e a demanda ficarão equilibradas quando saírem os primeiros sinais de que o SAF está indo bem e gerando frutos", diz Ávila.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.