Por Aluísio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - A estabilidade dos calotes no segundo trimestre e a promessa de foco na qualidade dos ativos foram insuficientes para amainar o ceticismo de investidores com o salto no volume de renegociação do Banco do Brasil (SA:BBAS3), cujas ações caíam forte na bolsa.
O movimento sublinha o ceticismo do mercado com a habilidade dos banco estatais de evitarem uma escalada da inadimplência num momento de contração da economia do país, após o BB ter expandido seus empréstimos acima do ritmo dos rivais privados.
"O controle da inadimplência é o principal indicador a ser monitorado pelo banco nos próximos trimestres", disse nesta quinta-feira a jornalistas o presidente-executivo do BB, Alexandre Abreu.
Mais cedo, o banco anunciou lucro líquido de 3 bilhões entre abril e junho, quase em linha com as projeções de analistas. O índice de inadimplência acima de 90 dias até recuou de 2,05 para 2,04 por cento na base sequencial.
Mas um ponto negativo chamou a atenção de analistas.
Um deles foi o volume em renegociação por atraso, que disparou 89,5 por cento em apenas um trimestre, a 3,7 bilhões de reais. Sobre um ano antes a alta foi ainda maior: 281 por cento.
Também na coletiva com a imprensa, o vice-presidente de Controles Internos e Gestão de Riscos do banco, Walter Malieni, atribuiu o movimento à mudança de postura do BB, que passou a renegociar mais cedo com clientes inadimplentes. "Nosso objetivo é educar o tomador", disse Malieni.
Analistas, no entanto, preferiram enxergar a medida como um indicador paralelo de piora da qualidade da carteira.
"Sim, empréstimos renegociados geralmente sobem em tempos de adversidade, mas um volume quase quatro vezes maior ano a ano levanta o receio sobre a qualidade futura dos ativos", disseram os analistas do BTG Pactual (SA:BBTG11) Eduardo Rosman e Gustavo Lobo.
Essa leitura de certa forma foi chancelada pelo BB, ao elevar a previsão da despesa com calotes em 2015 da faixa de 2,7 a 3,1 por cento da carteira de crédito para 3,1 a 3,5 por cento.
Além da expectativa de mais despesas para fazer frente à piora da qualidade dos empréstimos, as margens menores obtidas pelo banco nas operações de crédito também chamaram a atenção.
Contra o primeiro trimestre, o banco viu queda de 20 pontos base no spread geral da carteira a 4,2 por cento. Abreu atribuiu a queda ao foco do BB em linhas mais seguras, como imobiliário.
"As margens sem brilho foram a principal surpresa negativa dos resultados do Banco do Brasil", afirmou o time de analistas do Itaú BBA liderado por Thiago Batista.
Os analistas consideraram a combinação de despesa maior e menor margem como um desafio para o banco sustentar os níveis de rentabilidade .
No segundo trimestre, a rentabilidade sobre o patrimônio líquido do banco foi de 14,1 por cento, recuo de 2 pontos percentuais ante mesma etapa de 2014. Na mesma comparação, a rentabilidade ajustada caiu 2,9 pontos, para 14,2 por cento.
Abreu disse que a expectativa é manter a rentabilidade nos níveis atuais nos próximos trimestres. No segundo trimestre, o indicador recuou para 14,2 por cento em termos ajustados ante 17,1 por cento no mesmo período do ano passado. Afirmou também esperar uma aceleração do crédito no segundo semestre, puxado pelo agronegócio e por financiamento a exportações.
Às 15h18 (horário de Brasília), a ação do BB na bolsa paulista tinha queda de 4,5 por cento, um dos piores desempenhos do Ibovespa, que cedia 1 por cento no mesmo horário.
(Com reportagem adicional de Guillermo Parra-Bernal)