SÃO PAULO (Reuters) - Bancos estatais como o BNDES e o BNB terão papel "fundamental" em 2020 no financiamento a projetos de energia elétrica, como usinas de geração renovável, considerando os impactos da pandemia de coronavírus sobre o mercado de crédito privado, disse nesta quarta-feira um executivo do Santander Brasil (SA:SANB11).
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco do Nordeste (BNB) têm há tempos presença de destaque em financiamentos no setor elétrico, mas vinham perdendo participação nos últimos anos em meio à redução das taxas de juros no país.
Em 2019, empreendedores no setor de energia obtiveram volume recorde de recursos no setor privado com a emissão de debêntures incentivadas, em valor total de 27,26 bilhões de reais, bem acima do recorde anterior de 19,3 bilhões de reais em 2018, segundo dados do Ministério da Economia.
O chefe da área de project finance do Santander Brasil, Edson Ogawa, disse que o recorde não deve se repetir em 2020, e que as instituições públicas devem recuperar parte do terreno perdido devido à maior instabilidade no mercado.
"Aí eles (estatais) têm uma participação mais relevante, como está acontecendo sinceramente neste ano, em que o mercado deu uma retraída com o que aconteceu", afirmou ele, ao participar de evento online do setor de energia eólica promovido pelo Canal Energia.
"O volume de debêntures de infraestrutura será menor este ano que no ano passado, e a participação do BNDES, do BNB e de outros bancos de fomento será fundamental para que a gente consiga colocar de pé os projetos que estão previstos para este ano", acrescentou ele.
Ogawa não fez uma projeção sobre quanto os financiamentos via debêntures poderiam envolver para o setor de energia até o final de 2020.
Ele destacou ainda que as operações para financiar projetos de geração e transmissão de energia com emissões de dívida no mercado privado no Brasil vinham obtendo prazos longos, próximos aos praticados por bancos de fomento, com algumas emissões prevendo vencimento em 25 anos.
"A participação existe, e via mercado de capitais pode chegar a prazos longos, 25 anos. Mas tem essa característica, de (o mercado) abrir e fechar ("janelas de oportunidade para captação"). E isso a gente tem que ter consciência de que acontecerá dessa forma."
Em meados de março, no início da pandemia de coronavírus, especialistas alertaram que incertezas nos mercados financeiros provavelmente levariam empresas de energia no Brasil a postergar ou até cancelar emissões de debêntures, com muitas sofrendo com aumento de custos ou redução de prazos nas operações pretendidas.
Antes desse movimento, as captações no mercado de dívida vinham crescendo rapidamente no setor de energia e ganhando parte do espaço de BNDES e BNB, tradicionais financiadores da indústria. A partir de 2019, diversas empresas chegaram a captar recursos com debêntures para quitar antecipadamente empréstimos nos bancos de fomento, devido às taxas mais atraentes.
(Por Luciano Costa; edição de Roberto Samora)