O Ibovespa retomou nesta quarta-feira a linha de 120 mil pontos pela primeira vez desde fevereiro, em terceiro ganho consecutivo, refletindo a expectativa positiva para a economia norte-americana em meio ao início da temporada de resultados do primeiro trimestre, aberta pelos bancos. Aqui, com um primeiro semestre há tempos considerado perdido, a atenção se volta para normalização gradual nos seis meses finais de 2021, a depender do ritmo da vacinação, em ano agravado por incerteza fiscal que tem se refletido de forma mais próxima no câmbio e nos juros futuros.
Nesta quarta, auxiliado por ganho acima de 4% no Brent e WTI, o Ibovespa fechou em alta de 0,84%, a 120.294,68 pontos, entre mínima de 119.297,53, da abertura, e máxima de 120.871,45 pontos, no maior nível de encerramento desde 17 de fevereiro (120.355,79 pontos).
"O avanço das commodities e o 'reflation trade' continuam acontecendo, globalmente, com base na expectativa de uma retomada mais forte da economia americana. Os resultados no primeiro trimestre de grandes bancos, como JPMorgan e Goldman Sachs, um setor cíclico, reforçam a perspectiva positiva para o ano nos Estados Unidos. Diferentemente do que costuma ocorrer, as expectativas de resultado para a temporada foram sendo revisadas para cima ao longo do tempo, refletindo esta melhora. A expectativa é de que os lucros das empresas que compõem o S&P 500 tenham crescimento de 25% a 35% em relação ao mesmo período do ano passado", observa Erminio Lucci, CEO da BGC Liquidez.
Lucci chama também atenção para outro ponto: apesar da recuperação do Ibovespa, estendida de março para esta primeira quinzena de abril, o giro financeiro tem se mantido fraco, e a volatilidade, contida, refletindo a dificuldade de se construir posição para o médio prazo, em razão do grau de incerteza que afeta, em especial, a economia doméstica. Ainda assim, ele identifica busca por "ativo real", especialmente em setores que acompanham a demanda externa, como o de commodities. Aqui, acrescenta Lucci, o apelo das ações reflete ainda o ambiente de juros reais negativos, com o "próximo Copom já precificado".
Nesta quarta, com giro a R$ 64,4 bilhões, reforçado pelo vencimento de futuros sobre o índice, o Ibovespa sustentou o topo intermediário de 120 mil pontos, operando na estreita faixa entre 119 mil e 120 mil no intradia pela primeira vez desde 8 de fevereiro, tendo fechado a primeira sessão de abril aos 115.253,31 pontos. Após ganho de 6% em março, em recuperação parcial de perdas superiores a 4% e 3% respectivamente em fevereiro e janeiro, o Ibovespa, perto do fechamento da primeira quinzena de abril, acumula até aqui ganho de 3,14% no mês, desde a terça em terreno positivo no ano - nesta quarta, passa a acumular alta de 1,07% em 2021.
A mudança de direção ocorre a despeito da persistente preocupação sobre o fiscal - situação agravada por Orçamento ainda indefinido para 2021, sujeito a iniciativas "fura-teto" em meio a uma pandemia que cobra preço alto do ritmo de atividade doméstica e dos gastos públicos.
Sem novidades internas que contribuam para melhorar o humor, o Ibovespa pega carona nas commodities, estimuladas pela recuperação cada vez mais firme nos Estados Unidos e já mais consolidada na China. Nesta quarta, Petrobras (SA:PETR4) (PN +1,59%, ON +1,60%) e, em especial, Vale ON (SA:VALE3) (+3,30%), a R$ 107,00, alinharam-se a siderurgia (Usiminas (SA:USIM5) +4,21%, CSN (SA:CSNA3) +3,17%) e bancos (Santander (SA:SANB11) +2,01%, Itaú (SA:ITUB4) PN +1,28%) na mesma direção.
Parte das ações com exposição à economia doméstica, que estiveram entre as vencedoras do dia anterior, voltaram a cair nesta quarta, com Cogna (SA:COGN3) (-4,62%), B2W (SA:BTOW3) (-2,77%) e Lojas Americanas (SA:LAME4) (-3,16%) entre as componentes do Ibovespa de pior desempenho na sessão, assim como Iguatemi (SA:IGTA3) (-3,18%). Na ponta positiva do Ibovespa, destaque para Marfrig (SA:MRFG3) (+5,54%), CVC (SA:CVCB3) (+5,36%) e Minerva (SA:BEEF3) (+3,86%), além de Usiminas (+4,21%).