Balanços, Brexit, coronavírus, indicadores macroeconômicos locais e externos. São muitos os focos de observação dos investidores europeus na manhã desta terça-feira, com as bolsas do continente predominantemente em baixa. Pouco antes das 7h (horário de Brasília), o índice pan-europeu STOXX 600 recuava 0,18%, a 372,34 pontos, com o setor de viagens (-1,37%) mais uma vez liderando as perdas. As moedas locais se desvalorizavam em relação ao dólar na volta do feriado do Dia de Colombo nos Estados Unidos, o mercado mais líquido do mundo.
Um dos principais drivers dos negócios hoje será a divulgação dos resultados contábeis de importantes bancos americanos no terceiro trimestre, como JPMorgan Chase e Citigroup, além do da companhia aérea Delta Air Lines. O sentimento mais forte é o de que as instituições vão revelar balanços positivos de julho a setembro, o que impõe um piso às baixas das ações.
O que ajudou no tom negativo das negociações hoje foi a divulgação feita ontem à noite pela Johnson & Johnson de que paralisou seus testes para uma vacina contra a covid-19 por causa de uma doença inexplicada em um dos voluntários - uma situação similar havia ocorrido com as pesquisas desenvolvidas pela AstraZeneca e a Universidade de Oxford. No pré-mercado em Nova York, os papéis da companhia americana caíam 1,63%. A empresa também divulgará hoje seu resultado referente ao terceiro trimestre.
Sobre a pandemia, os mercados aguardam sinais de que os Estados Unidos poderão lançar um novo pacote de estímulos à economia local um mês antes da eleição presidencial no país e em meio a um forte embate entre a Casa Branca e o Congresso americano. No Reino Unido, o primeiro-ministro Boris Johnson anunciou ontem a liberação de mais 1 bilhão de libras para apoiar áreas mais afetadas pelo avanço da doença. Ele também determinou medidas de restrições nas partes mais atingidas pela retomada da covid-19 na Inglaterra, que deverão entrar em vigor a partir de hoje.
A medida causou críticas de especialistas em saúde do próprio governo, conforme relatou a imprensa britânica, já que as iniciativas determinadas pelo premiê, como fechamento de pubs, por exemplo, foram consideradas insuficientes para conter o avanço de novas infecções. As escolas continuam em funcionamento. Com uma das economias mais abatidas pelo coronavírus, Johnson quer evitar um "lockdown" geral no país.
Já era esperada, mas desagradou, a ameaça do vice-primeiro-ministro da Polônia e chefe do partido PiS - considerado o líder de fato do país - de vetar o plano de recuperação econômica da União Europeia (UE) e o orçamento comum de longo prazo. Em uma entrevista à Gazeta Polska Codziennie hoje, ele acusou o bloco de chantagear o país por causa de sua "identidade cultural". O acordo que vale para os próximos sete anos foi aprovado pelos líderes da UE e agora precisa do aval dos 27 parlamentos do bloco. A Polônia, assim como a Hungria, já havia ameaçado bloquear o pacote de recuperação. O bloco comum investiga os dois países por acusações de fim da independência dos tribunais, da mídia e das ONGs.
De volta ao Reino Unido, os investidores monitoram os últimos dias para um desfecho final do Brexit, como é chamada a saída do país da UE. Johnson se impôs a data de 15 de outubro como o limite para que as duas partes cheguem a um acordo comercial depois do divórcio, mas as negociações seguem tensas entre as partes. Além da covid-19, este é um ponto que pode ter forte impacto sobre a economia local. Hoje, foi divulgado que a taxa de desemprego britânica subiu para 4,5% nos três meses encerrados em agosto, acima das expectativas. Os investidores ficaram preocupados porque o maior programa britânico de apoio à economia por causa da pandemia expira no fim do mês e deve ter ainda mais impacto no mercado de trabalho.
Outros indicadores macroeconômicos foram divulgados no continente. Na Alemanha, o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) final caiu 0,2% em setembro ante o mesmo mês do ano passado, confirmando a prévia. Lá também o índice ZEW de expectativas econômicas caiu para 56,1 em outubro, bem abaixo da previsão de 74, o que ajudou a piorar o humor dos mercados agora cedo. Na madrugada, a China informou que suas exportações tiveram alta anual de 9,9% em setembro, acima das estimativas de 9,6%, e que as importações dispararam 13,2% no período ante previsão de apenas 0,54%.
A agenda do dia também está bastante diversificada. Os investidores acompanharão às 11h a apresentação do presidente do Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês), Andrew Bailey, no comitê de assuntos econômicos da Câmara dos Lordes - equivalente ao Senado brasileiro; a divulgação do relatório mensal da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e o lançamento pela Apple (NASDAQ:AAPL) de novos iPhones, com tecnologia 5G, que foi adiado para este mês por causa da pandemia. As ações da companhia americana de tecnologia é uma das que apresentam os maiores ganhos no ano.
Às 6h55 de Brasília, a Bolsa de Londres perdia 0,35%; a de Frankfurt caía 0,48% e a de Paris tinha baixa de 0,36%. Milão cedia 0,26%; Madri registrava baixa de 0,22%, mas Lisboa era exceção e negociava com ganho de 0,98%. No mercado cambial, o euro era cotado a US$ 1,1790, ante US$ 1,1814 do fim da tarde de ontem, e a libra era comercializada a US$ 1,3047, de US$ 1,3069 da véspera.
A bolsa portuguesa destoa das demais, com a previsão feita pelo Ministério das Finanças hoje de recuperação econômica de 5,4% no ano que vem, após a expectativa de contração de 8,5% em 2020. O governo também prometeu 965 milhões de euros para manter o emprego e ajudar na retomada, afirmando que voltará a atuar com mais medidas anticíclicas se houver necessidade. Para proteger a renda dos cidadãos, Portugal vai reduzir o imposto sobre eletricidade, a taxa de retenção na fonte e vai aumentar extraordinariamente a Previdência e a massa salarial do funcionalismo público.