Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - Com o maior ritmo de crescimento global, o mercado de biopesticidas brasileiro deverá encerrar a safra 2022/23 em alta de cerca de 70% na comparação anual, para 5,6 bilhões de reais, sustentado por fatores como a adoção em larga escala dos bioinsumos por produtores de soja, milho, cana e algodão, algo não visto em outras nações, estimou a CropLife Brasil.
A estimativa da associação que reúne empresas de biotecnologia, sementes, defensivos químicos e biológicos foi feita em momento em que CropLife também divulga com exclusividade, à Reuters, os resultados de uma pesquisa que apontou que o mercado de bioinsumos triplicou no Brasil em 2021/22 ante o ciclo passado.
Encomendado pela associação à S&P Global, o trabalho mostrou um salto no mercado de 219% na comparação com o ciclo anterior, para 3,3 bilhões de reais (valor pago pelos produtores).
"Estamos falando de uma indústria inovadora, que oferece inúmeros benefícios. Os biodefensivos são uma alternativa que, ao mesmo tempo que entregam um controle eficiente de pragas, podem atuar de forma sinérgica com outros produtos químicos, e ainda assim favorecer o meio ambiente", disse diretora de Biológicos da CropLife, Amália Borsari.
Com a adoção dos bioinsumos por produtores de grãos, oleaginosas e cana no Brasil, "o único país que usa bioinsumos de defesa vegetal em larga escala" em tais safras, o avanço do mercado está associado também à demanda de consumidores por alimentos produzidos com tecnologias renováveis e não químicas, à medida que crescem sistemas de agricultura regenerativa e orgânica.
Apesar do forte crescimento, o mercado de bioinsumos estimado para a safra atual (2022/23) representa apenas cerca de 10% do de defensivos químicos (em 2021/22). Mas esses englobam também herbicidas --uma categoria inexistente nos biológicos--, que são representativos para os agroquímicos, com até 40% das vendas do setor.
Borsari lembrou que o marco da adoção de biopesticidas no Brasil ocorreu em 2013, quando os bioinseticidas mostraram maior eficiência no controle da lagarta Helicoverpa armígera, enquanto produtores tinham dificuldades de controlar o problema apenas com os defensivos químicos.
"Desde então, os investimentos em pesquisa e desenvolvimento de produtos biológicos foram intensificados e resultaram em lançamentos de novos produtos. Atrelados a isto, nos últimos anos ocorreu uma consolidação deste mercado, por meio de fusões, aquisições e entrada de novos players, ampliando o acesso destas tecnologias pelo produtor rural", disse a especialista.
Ela comentou que atualmente existem mais de 500 bioinsumos registrados no Ministério da Agricultura, multiplicando por cinco o total disponível dez anos atrás.
Entre os produtos biológicos, há aqueles que atuam como pesticidas, mas também outros que funcionam como bioestimulantes, na fixação do nitrogênio, na solubilização do fósforo (atuando como inoculantes) ou até mesmo na nutrição vegetal (como fertilizantes orgânicos).
A pesquisa da S&P Global projeta um valor próximo a 17 bilhões de reais para o mercado brasileiro de produtos de controle biológico até 2030, considerando uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) para o período 2022 a 2030 da ordem de 23%.
Atualmente, a América do Norte lidera o consumo de biopesticidas, seguida pela América Latina, onde o Brasil tem um papel importante com maior crescimento anual, já empatando com a Europa em termos de representatividade no mercado.
"Considerando os desafios da agricultura tropical e as crescentes demandas sociais por uso correto dos agroquímicos/fontes não renováveis, é possível que o Brasil se torne o maior mercado global de biopesticidas até 2030", disse a especialista da CropLife.
FATORES PARA USO
A taxa média de adoção de controle biológico subiu de 17% em 2019/20 para 28% em 2021/22, em relação ao total da área plantada com lavouras no país, estimada ao todo em 85,7 milhões de hectares, segundo a pesquisa que ouviu mais de 1.900 agricultores em oito Estados.
Segundo a pesquisa, as principais razões pelas quais os produtores recorrem aos biodefensivos são eficiência de controle de pragas e doenças (29%) e a durabilidade ou tempo de atuação de um produto (25%).
O custo do produto biológico foi mencionado por apenas 2% da amostra. "Isso revela que, embora a questão econômica seja um fator, não é um critério determinante para a adoção", comentou a CropLife.
A pesquisa mostra que 58% dos produtores acreditam que o mercado deve avançar nos próximos três anos, e 20% esperam uma taxa de mais de 50% de crescimento, considerando aspectos de satisfação do produto.
(Por Roberto Samora)