Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O governo brasileiro ainda tenta entender a extensão do efeito que as medidas norte-americanas de taxação de importação do aço e alumínio podem ter para o país, mas já considera medidas de retaliação que podem até ser imediatas, disse à Reuters uma alta fonte do Itamaraty.
"Não se exclui nada, nem contra-medidas", disse a fonte. "Mas precisamos de mais informações do que temos até agora."
Os termos da fala do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e das notas divulgadas pela Casa Branca abrem a possibilidade de exceções, mas não há como saber quais as chances do Brasil ser encaixado em uma delas.
Uma análise inicial das medidas poderia deixar todas as empresas brasileiras de fora da exportação de aço para o mercado norte-americano, já que uma tarifa anunciada tornaria o aço brasileiro pouquíssimo competitivo.
Segundo a fonte, o governo brasileiro vai procurar o Washington para tentar entender melhor as medidas e negociar. "Vamos negociar até porque essa é a nossa tradição", disse.
Um pedido de consultas na Organização Mundial do Comércio (OMC) com abertura de painel é uma opção imediata, analisou a fonte, mesmo que haja uma negociação paralela. Assim como medidas de retaliação mesmo sem uma decisão da OMC, que costuma levar alguns anos.
A União Europeia já fala em contra-medidas imediatas, com base em resoluções da OMC.
"Isso cria uma dinâmica de guerra comercial que não interessa a ninguém, mas é um instrumento de pressão", reconheceu a fonte.
O ministro interino da Indústria, Comércio e Serviços, Marcos Jorge confirmou à Reuters que o governo brasileiro tentará negociar ficar de fora da medida.
"Nós vamos trabalhar para excluir o Brasil dessa medida, mas não descartamos quaisquer outras medidas para proteger o interesse nacional", disse Jorge, por telefone, do Paraguai, depois de um encontro com o secretário norte-americano de Comércio, Wilbur Ross.
Em 2017, o Brasil exportou 4,7 milhões de toneladas de aço para os EUA, segundo dados da entidade que representa as siderúrgicas brasileiras, IABr. Segundo a entidade, 80 por cento desse volume correspondeu a aço semiacabado, que é insumo de usinas de laminação norte-americanas.
"A indústria americana não tem autosuficiência, precisa de semiacabados, eles não vão poder colocar capacidade nova da noite para o dia", afirmou o presidente-executivo do IABr, Marco Polo de Mello Lopes.