SÃO PAULO (Reuters) - A Braskem (SA:BRKM5) deve reduzir em pelo menos 10% sua projeção de investimento de 3 bilhões de reais para 2020, em meio ao impacto da pandemia de coronavírus, que convenceu a empresa a sacar uma linha de crédito de 1 bilhão de dólares como forma de reforçar suas finanças.
Em teleconferência com analistas nestas quarta-feira, o vice-presidente financeiro da maior petroquímica da América Latina, Pedro Freitas, afirmou que o saque da linha ocorreu no início deste mês, como "uma apólice de seguro" para companhia.
"Foi uma medida de precaução, não estamos enfrentando dificuldades de caixa", afirmou o executivo. A Braskem informou que terminou 2019 com caixa de 3,3 bilhões de dólares, além de ter emitido bônus de 2,25 bilhões que vencem em 2030 e 2050 e notas promissórias de 550 milhões de reais que vencem em 2024.
Questionado sobre a projeção de investimento em 2020, divulgada pela empresa na semana passada por ocasião da publicação do balanço do quarto trimestre, Freitas afirmou que a Braskem ainda não recalculou o número, "mas acredito que vamos cortar o Capex (investimento) deste ano em pelo menos 10%". A previsão de investimento deste ano é cerca de 8% maior que o desembolsado pela companhia em 2019.
A Braskem terminou 2019 com relação dívida líquida sobre Ebitda de 4,71 vezes. Freitas não mencionou qual seria a estimativa da empresa para este ano, mas afirmou que a Braskem tem conforto para reduzir esta alavancagem. "Tem outro aspecto observado pelas agências de classificação de risco que é o perfil de vencimento e, quando vemos isso na Braskem até 2024, temos um perfil confortável. Isso nos dá tempo para voltarmos para níveis entre 2,5 e 3,5 vezes", disse o executivo.
Freitas afirmou que a Braskem está operando com mínimo de equipes no Brasil e em outras regiões como forma de assegurar a segurança dos funcionários e lidar com a queda na demanda de vários setores, incluindo automotivo e de construção. Segundo o executivo, a Braskem reduziu o número de pessoal nas fábricas no país em 60% e está ajustando a produção para atender mais os setores de saúde, higiene e de embalagens, que passaram a ser mais demandantes de produtos como plástico.
A empresa também está apoiando clientes pequenos e médios com uma linha de crédito no Brasil que poderá ser levada para Europa e Estados Unidos, afirmou Freitas. A Braskem anunciou no final de março oferta de linha de crédito de 1 bilhão de reais para clientes adimplentes das cadeias de plástico, solventes e especialidades, em medida contra o impacto econômico da pandemia, medida que segundo ele não vai comprometer o caixa.
Questionado sobre a relação de preços de produtos petroquímicos versus preços do petróleo, o spread, Freitas disse que é muito cedo para fazer uma avaliação por conta de todas as incertezas geradas pela pandemia e impactos na demanda.
Ele, porém, afirmou que aposta em uma recuperação no formado em "U" da economia global. "Eu acho que a destruição de demanda que estamos vendo não é sustentável. Pode haver algumas mudanças no comportamento dos consumidores, mas as pessoas vão continuar comprando carros, geladeiras e outros produtos."
(Por Alberto Alerigi Jr.)