Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - A inflação ao consumidor brasileiro desacelerou com mais força do que o esperado em maio, levando a taxa em 12 meses abaixo de 4% pela primeira vez em dois anos e meio, em um movimento de desinflação em curso no Brasil que intensifica apostas sobre o início do ciclo de cortes de juros pelo Banco Central.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,23% em maio, depois de ter avançado 0,61% em abril. O resultado é o mais fraco desde setembro de 2022 (-0,29%) e ficou bem abaixo da expectativa em pesquisa da Reuters de um avanço de 0,33% do índice.
O resultado divulgado nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) levou o IPCA a acumular nos 12 meses até maio taxa de 3,94%, contra 4,18% antes.
A expectativa para a taxa em 12 meses era de uma alta de 4,04%, e ela atinge assim o patamar mais fraco desde outubro de 2020 (+3,92%), última vez em que ficou abaixo da marca de 4%..
A meta para a inflação este ano é de 3,25%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos, medida pelo IPCA.
O Banco Central manteve a taxa básica de juros em 13,75% em maio e a expectativa do mercado na pesquisa Focus é de manutenção no encontro deste mês do Comitê de Política Monetária (Copom), com início dos cortes em setembro.
Mas o resultado do IPCA deve ampliar a discussão sobre o esperado início do afrouxamento monetário e sua intensidade, e pode desencadear novas críticas do governo à condução da política monetária. O resultado mais fraco do que o esperado do IPCA-15 em maio já havia alimentado apostas de uma antecipação dos cortes na Selic pelo Banco Central.
"A gente vem colhendo mês após mês uma melhora qualitativa nos números de inflação, então abre margem para que o processo de queda da taxa básica de juros venha nos próximos meses", disse Rafael Sueishi, chefe de renda fixa da Manchester Investimentos.
COMBUSTÍVEIS E ALIMENTOS
Em maio, os grupos de Transportes (-0,57%) e de Artigos de residência (-0,23%) foram os únicos a registrar queda.
No caso de Transportes, destacam-se os recuos nos preços das passagens aéreas (-17,73%) e combustíveis (-1,82%), com quedas do óleo diesel (-5,96%), da gasolina (-1,93%) e do gás veicular (-1,01%).
“Em 12 meses a gasolina tem queda de 26,48% e lidera esse movimento de desaceleração do IPCA", destacou André Almeida, analista da pesquisa no IBGE.
Alimentação e bebidas, grupo com maior peso no índice, também ajudou no resultado do IPCA do mês ao apresentar forte desaceleração da alta de 0,71% em abril para 0,16% em maio, com queda nos preços das frutas (-3,48%), do óleo de soja (-7,11%) e das carnes (-0,74%).
Entre os grupos com altas de preços, Saúde e cuidados pessoais teve o maior impacto ao subir 0,93% no mês, sob peso de plano de saúde (+1,20%) e itens de higiene pessoal (+1,13%).
A inflação de serviços, acompanhada de perto pelo Banco Central e que vinha mostrando resiliência em meio a um mercado de trabalho aquecido, também mostrou movimento benigno ao registrar variação negativa de 0,06% em maio, depois de subir 0,52% em março, em movimento determinado principalmente pela queda das passagens aéreas.
Com isso, serviços acumulam em 12 meses avanço de 6,51% nos preços, patamar mais fraco desde março de 2022 (6,29%).
"Os servicos trouxeram também um resultado muito positivo, o que fez com a média dos núcleos passasse de 0,55% no mês anterior para 0,38% no mês de maio", explicou Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital.
O índice de difusão, que mostra o espalhamento das variações de preços, caiu em maio a 56%, de 66% no mês anterior, marcando o resultado mais baixo desde agosto de 2020 (55%).
“A queda foi tanto entre alimentos quanto entre não alimentos. Isso indica menos itens subindo na economia. De abril para maio a inflação está menos disseminada na economia", disse Almeida.
O BC volta a se reunir em 20 e 21 de junho para deliberar sobre a política monetária. O presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, avaliou nesta semana que a inflação está melhorando, mas ainda de forma lenta, principalmente no caso dos núcleos, que medem os preços menos voláteis, que ele destacou terem queda "bastante lenta".
"Essa tendência (da inflação) que observamos nos últimos meses já seria indicativo para o Copom iniciar os cortes de juros em junho. No entanto, como o comunicado anterior não abriu espaço para a discussão, a próxima reunião deverá indicar essa mudança de rumo e abrir espaço para o início dos cortes em agosto, que podem começar em 50 pontos básicos e ter um ritmo mais acelerado do que espera o mercado", avaliou Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter.
A pesquisa Focus mais recente aponta expectativa de que 2023 termine com alta de 5,69% do IPCA.