SÃO PAULO (Reuters) - O Banco Central deverá levar os juros para 13,25% neste ano, visando combater nova piora nas expectativas para uma inflação que ficará acima da meta por mais dois anos, avaliou a equipe de economistas do banco BV em revisão de cenário nesta sexta-feira.
Foi ponderado, no entanto, que a melhora dos termos de troca deve proteger a economia de fraqueza adicional, enquanto juros e preços mais altos das commodities vão arrefecer a depreciação da taxa de câmbio.
O time de profissionais entende que o choque nos preços das matérias-primas pode ser permanente, devido à manutenção das sanções contra a Rússia e a seus impactos sobre o comércio internacional, com restrições nos mercados de energia e produtos agrícolas ditando implicações importantes sobre a inflação global.
"Justamente por isso, a projeção para a inflação no Brasil passou de 5,3% para 6,5% em 2022 e de 3,25% para 4,0% no próximo ano", disseram os economistas do BV em relatório.
Eles entendem que, embora a crise atual se caracterize como mais um significativo choque de oferta, torna-se necessário combater seus efeitos secundários sobre as expectativas de 2023 e reduzir o risco de a inflação superar o teto da meta por mais um ano.
"Neste sentido, o novo cenário mostra o BC elevando a Selic para 13,25% em 2022 (antes 12,5%) e 8,0% em 2023", disseram. O juro básico está em 10,75% ao ano e deve voltar a ser elevado na próxima quarta-feira, quando o Copom finalizará sua reunião de dois dias.
O efeito contracionista do aperto monetário maior e da atividade global mais lenta será compensado na economia pela melhora dos termos de troca, uma vez que as commodities se valorizaram.
A "superação da pandemia" e recentes sinais providos por indicadores econômicos também ajudariam a dar sustentação à atividade. O resultado é a manutenção dos prognósticos de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 0,5% para 2022 e 1,5% para 2023.
No caso da taxa de câmbio, a expectativa dos economistas do BV é de depreciação do real, em função das incertezas eleitorais e da menor liquidez internacional. Contudo, o movimento seria atenuado pelos juros e preços de matérias-primas mais valorizados.
"Assim, reduzimos nossa projeção de RS/US$ 5,7 para 5,5 em 2022 e de R$/US$ 5,60 para 5,30 em 2023", finalizaram os profissionais.
A estimativa para o fim de 2022 embute alta de 8,8% do dólar frente aos patamares atuais em torno de 5,05 reais, mas queda de 1,3% em relação ao fechamento de 2021.
"O mercado agora está animado, mas historicamente esses efeitos de insegurança global e aperto monetário acabam compensando a melhora dos termos de troca e dos juros", disse o economista-chefe do BV, Roberto Padovani, para quem a guerra na Ucrânia não é a "principal história de 2022" e, sim, a mudança das políticas monetárias no mundo desenvolvido.
O banco central norte-americano anunciará na próxima quarta o que no mercado se espera que seja a primeira alta de juros desde dezembro de 2018.
No mesmo dia, o Banco Central do Brasil também informará o novo patamar da Selic, que de acordo com pesquisa da Reuters será de 11,75%, colocando ainda mais pressão sobre o custo da dívida.
"O risco aqui é mais do que a eleição; é tentar entender como o próximo governo vai trabalhar a questão fiscal. A gestão fiscal de curto prazo tem produzido bons números, mas no médio e longo prazo a preocupação é como estabilizar a dívida. Esse é o debate", finalizou.
(Por José de Castro)