Por Marta Nogueira e Gustavo Bonato
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A indicação de Aldemir Bendine para a presidência da Petrobras, um executivo com perfil do setor bancário, vai demandar a nomeação de diretores qualificados, com experiência no setor de petróleo, para comandar importantes diretorias da petroleira ainda sem definição.
Além de estar entranhada em um dos maiores escândalos de corrupção do Brasil, a Petrobras vive um cenário de preços de petróleo em queda, com as maiores petroleiras do mundo cortando custos, renegociando contratos e reduzindo investimentos.
A empresa tem um ambicioso plano bilionário para elevar a produção nos próximos anos, principalmente em áreas desafiadoras, como a camada pré-sal.
"Quem cuidaria das questões técnicas seriam os diretores, que nós não sabemos quem são. Se os diretores tiverem o mesmo perfil (de fora do setor de petróleo), vai ser um desastre", disse o ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e consultor John Forman.
Bendine, atual presidente do Banco do Brasil, substituirá Maria das Graças Foster, que renunciou ao cargo nesta semana, segundo três fontes do governo disseram à Reuters nesta manhã.
O Conselho de Administração da Petrobras está reunido nesta sexta para eleger um nome indicado pela Presidência da República para ocupar a cadeira de presidente-executivo da petroleira.
Além de Bendine, o Conselho apontará o atual vice-presidente financeiro do BB, Ivan Monteiro, para a diretoria de Finanças da Petrobras, segundo disse à Reuters uma fonte próxima ao banco, que falou sob condição de anonimato.
"Esse trabalho de ajuste que a empresa vai ter que fazer, que aliás todas as outras grandes empresas (do setor) estão fazendo, mudanças no portfólio de investimento, renegociação de contratos, em função da variação abrupta do preço do petróleo... é um trabalho dos diretores da companhia, não do CEO, isso vai depender muito dos nomes que serão escolhidos para a diretoria", afirmou o professor adjunto do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Edmar de Almeida.
Outros quatro diretores que renunciaram e que cuidam de atividades operacionais como exploração e produção, abastecimento e gás e energia ainda deverão ser escolhidos pelo Conselho nesta sexta-feira.
MAESTRO
O consultor Forman avalia, no entanto, que o novo presidente não precisa necessariamente dominar o setor de petróleo.
"O maestro não precisa saber tocar piano, violino, contrabaixo, clarineta. Ele tem que saber reger para não sair barulho, para sair música", frisou.
Especialistas e fontes da indústria de petróleo defendem que o perfil financeiro do presidente será importante para resolver as dificuldades mais urgentes, que são renegociar dívidas, ajustar aportes e aprovar um balanço financeiro com baixas contábeis devido à corrupção.
"Não vejo que nesse momento o conhecimento do setor de petróleo seria a coisa mais importante para um CEO da Petrobras. Por outro lado, o perfil ligado ao mercado financeiro, que entende de mercado financeiro, a meu ver vai ser muito útil nesse momento de ajustes", disse Almeida, membro do Grupo de Economia de Energia da UFRJ.
No entanto, relatório do Bradesco BBI pondera que a indicação de Bendini não é uma melhora grande em relação ao comando anterior, por conta da forte ligação do executivo com o governo. "Tememos que as substituições possam ser um obstáculo adicional para os balanços auditados serem publicados no prazo."
Para o presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), Ariovaldo Rocha, o perfil financeiro de Bendine também é importante.
"Aldemir Bendine reúne qualidades essenciais para este momento que a Petrobras atravessa: experiência no mercado financeiro e na negociação para captação de recursos no mercado internacional; conhecimento e experiência no gerenciamento de demonstrações financeiras e balanços no formato auditado para investidores locais e internacionais", ressaltou Rocha.
Além disso, o presidente do Sinaval afirmou que Bendine tem conhecimento sobre o setor naval por meio da atuação do Banco do Brasil como agente de financiamentos à construção de navios e estaleiros e bom trânsito com a Presidência da República e os Ministérios da área econômica.
A notícia de que o atual presidente do Banco do Brasil deverá ser o novo presidente-executivo da Petrobras derrubava as ações da petroleira e arrastava para baixo a Bovespa nesta sexta-feira.