Investing.com - Poucas horas antes do final da reunião do Federal Reserve, uma notícia pegou todo mundo de surpresa. No último dia antes do início do recesso do Judiciário, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio Mello, concedeu liminar determinando que presos não cumpram pena de prisão após condenação em segunda instância. A medida se estende ao ex-presidente Lula, detido na carceragem da Polícia Federal em Curitiba (PR).
Em outros tempos, para ser mais preciso antes do início da corrida eleitoral, uma notícia como essa traria muita volatilidade para os mercados, derrubando a bolsa e as ações das empresas estatais, fazendo os juros futuros subirem e puxando a valorização do dólar comercial. Agora, com Jair Bolsonaro (PSL) já eleito, o mercado praticamente ignora a notícia.
Por volta de 16h30, o Ibovespa registrava alta de 1,13% aos 87.588 pontos, com o dólar recuando 0,94% a R$ 3,8755.
Prende e solta
No dia 8 de julho, em pleno final de semana, o desembargador plantonista do Tribunal Regional da 4ª Região (TRF-4), Rogério Favreto, concedeu liminar ao ex-presidente Lula. A decisão, surpreendeu a todos, fazendo com que o então juiz, Sérgio Moro, determinasse que o plantonista não poderia mandar soltar o petista.
Favreto chegou a reiterar a decisão, determinando a soltura imediata de Lula. No entanto, o presidente da corte, desembargador Carlos Eduardo Thompson Flores, tomou decisão monocrática pela manutenção da prisão. No despacho, Thompson disse que a competência para julgar o pedido de habeas corpus de Lula é do desembargador João Pedro Gebran Neto, e não de Favreto.
Pelo fato das idas e vindas sobre a liberdade ou não de Lula ter acontecido durante o domingo, poucos foram os impactos no mercado financeiro local.
Thiago de Aragão, da consultoria de análise política Arko Advice, diz que há grande expectativa sobre o assunto, em especial por conta da possibilidade de beneficiar o ex-presidente Lula. No entanto, ele ressalta que, do ponto de vista da política, sua eventual liberdade terá impacto político limitado.
Lula candidato
Mesmo preso desde o início de abril, o Partido dos Trabalhadores (PT) sempre insistiu com o nome do ex-presidente para a disputa pelo Palácio do Planalto. Principalmente porque o nome de Lula liderava todas as pesquisas de intenções de votos na qual constava como o nome do partido.
Em agosto, dentro do prazo para que os partidos escolhessem seus candidatos, o PT, em coligação com o PC do B, indicou o nome de Lula para encabeçar a chapa, ao lado do ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Mesmo naquela situação, a sigla já havia escolhido a deputada federal Manuela D’Ávila (PC do B-RS), como possível vice de Haddad, caso pedido da candidatura fosse indeferido.
No final de agosto, poucos dias antes do prazo para o registro das candidaturas, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rejeito a chapa do PT por 6 votos a 1, determinado que o partido realizasse a substituição do nome de Lula, sob pena da sigla ficar sem representante na disputa. Sem alternativas, e com recurso negado, preso, o ex-presidente determinou a indicação de Haddad.
ONU
No dia 17 de agosto, o Comitê de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas) acolheu pedido da defesa de Lula e recomendando que o Brasil garantisse os direitos políticos do ex-presidente. Mesmo preso, Lula registrou, havia registrado no dia 15, sua candidatura à Presidência.
"O Comitê pediu que o Brasil tome todas as medidas necessárias para garantir que Lula possa usufruir e exercitar seus direitos políticos enquanto está na prisão, como um candidato nas eleições presidenciais de 2018", afirmou o órgão, em comunicado na ocasião.
Mesmo com esse apelo, e devido a controversa obrigatoriedade do país de aceitar ou não a interferência da ONU no caso, a defesa de Lula não teve sucesso no pedido de julgamento de habeas corpus e nem mesmo no de registro de sua candidatura.