Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - A chinesa Zhejiang Electric Power Construction (ZEPC) tem negociado a possibilidade de adquirir ao menos uma fatia na hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, que quando concluída será uma das maiores do mundo, disseram à Reuters duas fontes com conhecimento do assunto.
A usina do rio Xingu, que receberá cerca de 35 bilhões de reais em investimentos, tem como principais acionistas a estatal federal Eletrobras (SA:ELET3), as elétricas Neoenergia, Cemig (SA:CMIG4), Light (SA:LIGT3), além da mineradora Vale (SA:VALE5) e os fundos de pensão Petros e Funcef.
Na semana passada, o presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Jr., admitiu a jornalistas que sócios de Belo Monte têm buscado interessados em comprar suas fatias na usina. Na ocasião, ele disse que a Eletrobras irá aguardar essas tratativas para decidir se adere à transação.
Se a empresa chinesa estiver disposta a comprar uma participação controladora, ela teria que oferecer a mesma oferta aos demais sócios, o que poderia elevar o valor do negócio. Isso explica também por que a Eletrobras está aguardando os desdobramentos das negociações.
As fontes, que falaram sob a condição de anonimato porque as conversas são sigilosas, disseram que as negociações estão em andamento, mas não citaram valores.
A hidrelétrica de Belo Monte já possui dez máquinas em operação, mas a conclusão total do projeto é estimada para 2019.
A usina recebeu investimentos de 31,6 bilhões de reais até o final de 2016, de um total de 35,2 bilhões de reais previstos até o final da obra, segundo a Eletrobras.
Uma das fontes disse que os acionistas estão insatisfeitos com as perspectivas do empreendimento, que ainda não gera lucro e ao mesmo tempo tem exigido constantes aportes de capital.
Os planos de algumas empresas para sair de Belo Monte vêm também em um momento em que muitos dos acionistas passam por dificuldades financeiras ou movimentos de reestruturação.
Cemig e Vale têm falado em realizar desinvestimentos para reduzir dívidas, assim como a Eletrobras, enquanto os fundos de pensão Petros e Funcef têm revisto o portfólio de ativos após perdas.
Procurada, a Norte Energia, que reúne os sócios, disse que informações sobre eventual venda não passam pela companhia e devem ser tratadas junto aos acionistas.
A Eletrobras disse que está preparada para exercer ou não seu direito de tag along no empreendimento, mas ressaltou que não comenta as negociações dos demais sócios.
A Neoenergia afirmou que "não há nenhuma negociação em curso".
Cemig, Light, Petros e Funcef não retornaram pedidos de comentário. A Vale não quis comentar.
O site da ZEPC, que tem negócios em energia térmica e hidrelétrica na China e no exterior, afirma que o objetivo da empresa é "constituir-se em uma companhia de engenharia de primeira classe na China e ter certa influência internacional na engenharia elétrica e outros segmentos de infraestrutura".
Não foi possível encontrar um porta-voz da ZEPC para comentar imediatamente.
USINA DE PROBLEMAS
A usina de Belo Monte tem acumulado problemas que ajudam a explicar o interesse de acionistas em deixar o negócio.
O empreendimento é alvo de investigações da Operação Lava Jato, em que autoridades apuram um enorme escândalo de corrupção no Brasil.
A usina também tem enfrentado diversas ações judiciais por impactos socioambientais. Nesta sexta-feira, a Reuters publicou que uma decisão judicial suspendeu a licença de operação da hidrelétrica.
À parte essas disputas, a Norte Energia ainda viu o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) travar a liberação de 2 bilhões de reais que seriam utilizados para concluir a usina, o que tem obrigado os sócios a colocar mais dinheiro nas obras.
O contrato entre Norte Energia e BNDES previa a liberação dos recursos apenas se Belo Monte conseguisse vender a um preço pré-determinado uma parte de sua energia que ainda está descontratada, o que ainda não ocorreu.
Parte dos acionistas tenta obrigar a Eletrobras a comprar a energia para assim liberar os recursos do BNDES. O assunto atualmente é alvo de uma disputa em processo de arbitragem.
Os chineses, por sua vez, têm demonstrado forte apetite para grandes projetos hidrelétricos e de infraestrutura pelo mundo, com os quais podem vender equipamentos e ampliar sua presença global.
SANTO ANTÔNIO
Outra importante usina do Brasil, a hidrelétrica de Santo Antônio, em Rondônia, também está no alvo de uma empresa chinesa, a State Power Investment Corporation (SPIC), disse uma terceira fonte à Reuters, confirmando informações que circulam no mercado.
O jornal O Estado de S.Paulo publicou em fevereiro que a SPIC estaria próxima de fazer uma proposta pela usina.
Na semana passada, Ferreira, da Eletrobras, disse que a usina em Rondônia, uma das maiores do Brasil, já recebeu uma oferta não vinculante e que uma proposta vinculante pode ser apresentada até abril.
A SPIC entrou no Brasil em 2016, com a compra de ativos de energia eólica da australiana Pacific Hydro no país.
Orçada em cerca de 20 bilhões de reais, Santo Antônio tem como acionistas a Eletrobras, além de Cemig, Odebrecht e SAAG Investimentos.
A Odebrecht Energia disse que "seguem as negociações para alienação de sua participação" na usina, "com o movimento natural de entrada e saída de alguns interessados na aquisição dos ativos". "No grupo de potenciais compradores, há, entre outros interessados, companhias chinesas", adicionou.
A Eletrobras disse que não comenta movimentações dos sócios. A Cemig não respondeu imediatamente a pedidos de comentário. A SAAG disse que não vai comentar.
Não foi possível contatar imediatamente representantes da SPIC.