(O autor é editor-chefe do Serviço Brasileiro da Reuters. As opiniões expressas são do autor do texto)
Por Cesar Bianconi
SÃO PAULO (Reuters) - O provável apoio que a candidata à Presidência Marina Silva (PSB) deverá ter do agora rival PSDB em um provável segundo turno contra a presidente Dilma Rousseff (PT) não trará apenas dividendos para a ex-senadora.
Com ou sem o apoio formal do PSDB na etapa final da corrida presidencial, Marina tende a herdar uma parcela relevante dos votos que irão no primeiro turno para o tucano Aécio Neves.
Os eleitores cativos do PSDB querem tirar os petistas de Brasília a qualquer custo, assim é natural esperar que muitos deles votem no oponente de Dilma nas urnas em 26 de outubro, seja ele quem for. Ao mesmo tempo, um apoio formal colocaria a máquina partidária do PSDB, muito maior e melhor organizada do que a do PSB, para trabalhar por Marina.
Por outro lado, o mesmo apoio formal do PSDB à Marina tem chance razoável de resultar em alguma perda de votos que a ex-senadora tem garantidos hoje, algo difícil de se quantificar a esta altura da campanha.
Muitos eleitores que antes estavam indecisos ou anulariam seu voto em meados de agosto, até a entrada da ex-senadora na disputa pelo Palácio do Planalto, viram em Marina uma alternativa real de mudança. Foi ela quem conseguiu se apropriar do desejo de mudança que foi expresso nas manifestações populares de junho e julho do ano passado.
Para parte desse público, que se mostra cansado da polarização entre PT e PSDB no poder, uma união formal de Marina aos tucanos representaria um vínculo dela com a "velha política" que a ex-senadora tanto critica, embora seu discurso seja o de que governará com "os homens bons" de todos os partidos, se for eleita.
O mais complicado para a candidata do PSB, contudo, seria que uma aproximação com o PSDB daria munição para a campanha petista. A incoerência de Marina que agora é apontada por Aécio, lembrando dos mais de 20 anos em que a ex-senadora ficou no PT, seria arma para Dilma no segundo turno. Afinal, se Marina quer fazer a "nova política", como pode se aliar aos tucanos?
Quatro anos atrás, quando como candidata à Presidência pelo PV surpreendeu com um terceiro lugar e quase 20 milhões de votos, a ex-senadora optou pela neutralidade no segundo turno disputado entre Dilma e o tucano José Serra.
OLHAR EM 2018
Em 20 de agosto, uma semana após a trágica morte do presidenciável Eduardo Campos e horas antes de Marina ser anunciada a nova candidata do PSB, uma fonte tucana disse à Reuters que o partido apoiaria Marina formalmente caso Aécio ficasse fora da disputa final.
"O Brasil precisa de uma mudança, uma renovação. O país não pode tolerar mais quatro anos (de Dilma)", disse a fonte de alto escalão do PSDB, sob condição de anonimato, ao correspondente-chefe da Reuters no Brasil, Brian Winter.
Aécio tem insistido que acredita em uma arrancada na etapa final da campanha que o levará ao segundo turno, apesar de pesquisas indicando um quadro consolidado com Dilma e Marina.
Embora ataque Marina pelo que chama de incoerências, durante a campanha Aécio tem afirmado que sua contrariedade é com o governo atual. Ele reconhece alguns pontos comuns de seu programa de governo com o do PSB, sobretudo na parte macroeconômica, que diz terem sido baseados no que o PSDB fez e fará.
Ainda do lado do PSDB, o cálculo político de apoiar Marina precisa considerar a próxima eleição presidencial. Marina tem dito que não tentará a reeleição e estar do lado dela aumentaria a chance de os tucanos elegerem um presidente em 2018.
NÚMEROS RECENTES
As primeiras pesquisas divulgadas após Marina ser oficializada candidata mostraram uma queda importante de indecisos e de votos nulos e brancos, com migração para a ex-senadora.
Nos levantamentos mais recentes dos institutos de pesquisa mais relevantes, a candidata do PSB perdeu um pouco de terreno, aparecendo com perto de 30 por cento no primeiro turno. Terceiro colocado, Aécio recuperou um pouco de fôlego para o patamar entre 17 e 19 por cento dos votos no primeiro turno.
Na simulação de segundo turno, Marina tem cerca de 40 por cento das intenções de voto, em empate técnico com Dilma.
Com base nos números acima, alguma transferência de votos do PSDB para a ex-senadora já está ocorrendo quando se coloca na mesa um cenário de segundo turno entre Dilma e Marina.
É cedo para quantificar como será a dinâmica da transferência de votos quando a disputa pelo segundo turno começar de verdade, caso o PSDB venha de fato a apoiar formalmente Marina. Só depois dessa definição será possível saber o quanto a candidata ganhará e perderá.
* Esta coluna foi publicada no terminal financeiro Eikon, da Thomson Reuters, na quarta-feira, 24 de setembro.