Por Jeferson Ribeiro
BRASÍLIA (Reuters) - A presidente Dilma Rousseff disse nesta segunda-feira que fará mudanças no Conselho de Administração da Petrobras, que está no centro de um escândalo de corrupção, mas que não pretende substituir o comando operacional da estatal, porque não vê indícios de irregularidades entre os diretores.
Em café com jornalistas no Palácio do Planalto, Dilma disse ainda que será necessário tomar "medidas mais drásticas" na economia para "organizar a casa e ter a retomada do crescimento", mas negou que já tenha discutido o tamanho do ajuste fiscal de 2015 e a necessidade de aumento de impostos.
Dilma afirmou que nomeará os novos conselheiros da estatal após dar posse ao novo ministro de Minas e Energia. Ela não divulgou, no entanto, quem serão os novos conselheiros, mas disse que não há um modelo que obrigue a presidência do órgão a seguir com o titular do Ministério da Fazenda. Hoje, o ministro Guido Mantega é o presidente do conselho.
Na semana passada, uma fonte próxima à Presidência da República disse à Reuters que o futuro ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, e o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, são os favoritos para ocupar a presidência do Conselho de Administração da Petrobras.
A estatal vive a sua maior crise, após de ter sido envolvida em um escândalo de corrupção bilionário, que resultou na prisão dos ex-diretores de Abastecimento, Paulo Roberto Costa, e de Serviços, Renato Duque, e impossibilitou a divulgação do resultado do terceiro trimestre dentro dos prazos. As ações da estatal, que também sofre com o recuo dos preços do petróleo, acumulam perda de quase 40 por cento no ano e de cerca de 20 por cento somente em dezembro.
Sobre a diretoria, Dilma disse que não pretende fazer substituições e defendeu enfaticamente a presidente da estatal, Maria das Graças Foster, mesmo após uma funcionária da Petrobras ter dito em entrevistas recentes que teria alertado a executiva por email e pessoalmente de irregularidades, que agora são alvo das investigações da operação Lava Jato, da Polícia Federal.
"Não vejo nenhum indício de irregularidades da atual diretoria da Petrobras", afirmou Dilma. "Eu conheço a Graça, eu sei da seriedade da Graça, sei da lisura da Graça", argumentou Dilma.
"Sem apontar uma falha dela, cria-se um clima muito difícil para ela. Agora, por isso eu vou tirá-la? Eu a penalizo por algo que não é responsabilidade dela?", questionou Dilma.
Dilma afirmou ainda que não se pode trocar a diretoria atual porque ela colocou em marcha investigações internas e um choque de governança, que o governo não pode interromper.
A presidente disse ainda que acha "absurdos os valores(desviados)" por "alguns funcionários (da Petrobras)", levando em conta as denúncias da operação Lava Jato.
E classificou de "simplismo" apontar que a diretoria deveria ter conhecimento dos desvios apenas por estar na companhia.
Ao ser questionada se os custos crescentes com as obras da Petrobras não poderiam indicar que havia irregularidades, Dilma disse que a estatal usava orçamentos que não condiziam com a realidade, porque o país não tinha projetos.
"Os projetos feitos no Brasil naquela época eram muito precários, porque o Brasil vinha de um tempo muito longo sem investir", disse.
BALANÇO
Dilma afirmou ainda que a empresa vai aguardar a divulgação das delações premiadas colhidas no âmbito da investigação da PF para concluir o balanço do terceiro trimestre.
"É de todo oportuno que se saiba o teor das delações premiadas, porque se não souber nós não sabemos o volume que foi indevidamente retirado dos cofres da Petrobras... nós vamos ter que lançar como prejuízo", argumentou.
"Já pedimos ao Ministério Público e estamos esperando."
A Petrobras corre o risco de ter pagar antecipadamente dívidas caso atrase ainda mais a publicação dos resultados, prevista agora para até fim de janeiro.
Dilma afirmou ainda que a situação internacional do setor de petróleo é difícil e isso "vai obrigar todas as grandes empresas... a fazer uma revisão dos seus negócios".
Segundo Dilma, o governo travará "uma luta incansável" para evitar a perda do grau de investimento da Petrobras.
"A Petrobras tem um caixa que permite a ela passar esse ano sem recorrer ao mercado", acrescentou.
"Ela tem várias vantagens, tem o pré-sal. Neste momento o preço (do barril) não nos preocupa. Em outros países essa questão do preço ter caído é gravíssima", argumentou.
O petróleo tipo Brent está na faixa dos 60 dólares por barril no exterior, cerca 50 por cento abaixo da máxima vista neste ano e no menor nível em mais de cinco anos.
ECONOMIA: MEDIDAS "MAIS DRÁSTICAS"
Apesar dessas dificuldades na estatal, que responde por cerca de 10 por cento do total dos investimentos do país, Dilma disse que o Brasil poderá recuperar o crescimento nos próximos anos, mesmo que a retomada internacional seja mais lenta.
Dentro do governo, é grande a preocupação com os efeitos da operação Lava Jato na economia no próximo ano, uma vez que as principais empreiteiras do país são alvo de denúncias. Além disso, teme-se uma redução do programa de investimentos da estatal.
"Tenho certeza que nós teremos nos próximos anos uma recuperação do país, mesmo que não tenhamos uma grande recuperação internacional, porque temos fundamentos sólidos", argumentou.
Para alcançar essa retomada, Dilma disse que será necessário tomar medidas mais drásticas na economia.
"Nós vamos nos preparar para organizar mais uma vez a casa, para nos preparar para a retomada", disse aos jornalistas.
"Para isso, nós temos que fazer algumas medidas mais drásticas, não significa em hipótese alguma que nós vamos reduzir os programas sociais", afirmou.
"Nós teremos que ter um controle maior sobre outros gastos e teremos que fazer algumas reformas, algumas minirreformas", disse sem detalhar quais.
A economia brasileira deve ficar praticamente estagnada em 2014, com variação positiva de apenas 0,13 por cento, segundo estimativa mais recente de economistas no boletim Focus, do Banco Central. Para 2015, a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) prevista pelo Focus é de 0,55 por cento.
A presidente disse ainda que não foi discutido com ela o tamanho do ajuste fiscal que será adotado no ano que vem e nem mesmo está decidido quais aumentos de impostos podem ser adotados.
Na semana passada, a Reuters publicou reportagem afirmando que o governo estaria planejando um pacote de cortes orçamentários e aumento de impostos no valor de até 100 bilhões de reais, em uma tentativa agressiva para recuperar a confiança dos investidores em um momento de crescente pressão sobre os mercados emergentes.
"Esse número não foi discutido com a presidenta", disse Dilma.