Por Patrícia Duarte e Bruno Federowski
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar subiu nesta segunda-feira e fechou a 2,61 reais pela primeira vez desde meados de 2005, com analistas citando uma operação de saída de recursos cujo impacto foi turbinado pelo baixo volume de negócios, em meio a um ambiente externo mais desfavorável.
Internamente, analistas afirmaram que também tem contribuído para a alta do dólar a incerteza sobre quais medidas a nova equipe econômica tomará para enfrentar o quadro doméstico de inflação alta e crescimento baixo, além do futuro do programa de intervenções diárias do Banco Central no câmbio.
A moeda norte-americana subiu 0,7 por cento, a 2,6115 reais na venda, maior cotação de fechamento desde abril de 2005.
Na câmara de dólar à vista da BM&F, o giro financeiro ficou em torno de 750 milhões de dólares. Já no mercado futuro, foram negociados cerca de 220 mil contratos para janeiro, contra a média diária das últimas 20 sessões de cerca de 280 mil.
"Num dia de baixo volume que nem hoje, qualquer operação acaba fazendo estrago", disse o superintendente de câmbio da corretora Intercam, Jaime Ferreira.
Segundo operadores, a grande operação de saída de dólares ocorreu aproximadamente ao mesmo tempo em que o petróleo Brent ampliou as perdas para queda de 3 dólares por barril, ainda refletindo a perspectiva de oferta abundante combinada com demanda fraca devido ao enfraquecimento da economia global.
"O mercado está fraco, com pouco volume, o que é tradicional do fim do ano", afirmou o gerente de câmbio da corretora Fair, Mário Battistel, citando ainda a indefinição sobre as medidas econômicas que serão adotadas pela próxima equipe econômica.
Joaquim Levy e Nelson Barbosa --indicados para assumir os ministérios da Fazenda e do Planejamento, respectivamente-- já trabalham para mostrar uma orientação mais ortodoxa na política econômica, o que inicialmente animou os mercados.
Mas após o otimismo inicial, investidores voltaram a adotar cautela, buscando sinais concretos de que as promessas de maior transparência e contenção fiscal serão cumpridas.
"A perspectiva está incerta, o que autoriza uma postura de investimentos mais defensiva. Existe um viés de melhora, mas ainda há muita indefinição", resumiu o superintendente de derivativos de uma gestora de recursos estrangeira.
O mercado também busca sinais sobre o futuro do programa de intervenções diárias do Banco Central, que está marcado para durar até pelo menos o fim deste ano. Se o programa for reduzido ou eliminado, o resultado será uma diminuição da liquidez do mercado doméstico justamente no ano em que se espera que o Federal Reserve, banco central norte-americano, comece a elevar os juros.
Nesta manhã, o BC vendeu a oferta total de até 4 mil swaps cambiais, todos com vencimento em 1º de junho de 2015, com volume financeiro equivalente a 198,6 milhões de dólares. Foram ofertados papéis para 1º de setembro de 2015 também, mas não foi vendido nenhum.
O BC também vendeu a oferta integral de até 10 mil swaps para rolagem dos contratos que vencem em 2 de janeiro, equivalentes a 9,827 bilhões de dólares. Ao todo, a autoridade monetária já rolou cerca de 30 por cento do lote total.
A autoridade monetária ainda realizou nesta sessão um leilão de venda de até 1 bilhão de dólares com compromisso de recompra em 2 de abril de 2015. A taxa de recompra ficou em 2,673874 reais.