Por Gabriel Codas
Investing.com - Na primeira hora da jornada desta segunda-feira as ações da Embraer (SA:EMBR3) operavam na B3 com forte queda antes de entrar em leilão. A aversão ao risco ao papel da fabricante de aeronaves vem depois que a Boeing cancelou o acordo de compra do controle da divisão de jatos comerciais por US$ 4,2 bilhões de dólares, o que deverá levar a uma batalha legal entre as empresas, com a fabricante brasileira afirmando que a companhia norte-americana rescindiu o contrato indevidamente. Contribui para o pessimismo o pedido de reestatização da companhia pelos sindicatos de trabalhadores da Embraer.
As ações da Embraer entraram em leilão às 10h22, quando caía 14,01%. A retomada das negociações não impediu a forte queda dos papéis. Às 10h51, as ações da companhia despencavam 11,84% a R$ 7,30, com mínima em R$ 6,91, indo na contramão do Ibovespa hoje. O principal índice acionário brasileiro subia 2,37% a 77.116 pontos.
“Há vários meses temos mantido negociações produtivas a respeito de condições do contrato que não foram atendidas, mas, em última instância, essas negociações não foram bem-sucedidas”, disse Marc Allen, presidente da Boeing para a parceria com a Embraer, em comunicado à imprensa. “O objetivo de todos nós era resolver as pendências até a data de rescisão inicial, o que não aconteceu”, acrescentou.
Horas após a manifestação da Boeing, a Embraer respondeu afirmando em um duro comunicado à imprensa que o cancelamento da transação ocorreu com a companhia norte-americana fazendo “falsas alegações”.
“A empresa buscará todas as medidas cabíveis contra a Boeing pelos danos sofridos como resultado do cancelamento indevido e da violação do MTA (acordo inicial entre as empresas)”, afirmou a Embraer sem citar valores. “A Embraer acredita que está em total conformidade com suas obrigações previstas no MTA e que cumpriu todas as condições necessárias” até o prazo de sexta-feira.
Arbitragem
A empresa afirmou nesta segunda-feira que iniciou processo de arbitragem contra a Boeing, depois que a fabricante norte-americana de aviões cancelou no fim de semana a compra do controle da divisão de aviação comercial da companhia brasileira.
Em teleconferência nesta segunda-feira, o presidente-executivo da Embraer, Francisco Gomes Neto, não quis dar mais detalhes sobre o processo e se a empresa poderá abrir um processo na justiça do Brasil ou Estados Unidos.
Executivos da Embraer tentaram assegurar aos investidores que a companhia continua sólida, afirmando que a companhia encontrou 1 bilhão de dólares em economias de custo em 2020 e que não teve nenhuma encomenda de avião cancelada por causa da crise do coronavírus.
Apesar disso, Gomes Neto disse que 2020 será "difícil" e que 2021 "será pior do que esperávamos".
Ajuste de produção
A fabricante de aviões brasileira informou neste domingo que, após o fim do acordo de 4,2 bilhões de dólares com a Boeing, que trabalha para ajustar os seus níveis de produção e as despesas de capital para economizar recursos.
A empresa acrescentou, em um comunicado, que terminou 2019 com uma “sólida posição de caixa” e não tinha “dívida significativa para os próximos dois anos”.
“Estamos tomando medidas adicionais para preservar nossa liquidez e manter nossas finanças sólidas durante esses tempos turbulentos”, acrescentou a empresa.
Outras medidas incluem ajustes no estoque, extensão dos ciclos de pagamento, redução de despesas e busca de financiamento, disse a Embraer.
O acordo entre a Embraer e a Boeing foi anunciado há quase dois anos. As empresas estavam em fase final de fechamento da negociação antes da Boeing tomar a iniciativa de desfazer o acordo. A Boeing deveria controlar 80% da divisão de aviação comercial da Embraer, que fabrica aviões de até 150 assentos.
Pedido de reestatização
Após ser contrário à joint-venture entre Embraer e Boeing, o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos emitiu nota no sábado pedindo a reestatização da Embraer após o rompimento do acordo entre as duas companhias.
"A rescisão do acordo de compra da Embraer pela Boeing, anunciada neste sábado (25) pela empresa norte-americana, é uma reviravolta em uma transação marcada pelo desprezo aos interesses nacionais e dos trabalhadores brasileiros", segundo trecho do comunicado do sindicato.
Avaliação dos analistas
O UBS destaca que o segmento de Aviação Comercial historicamente impulsionou a maior parte dos ganhos e do fluxo de caixa da empresa, e a companhia estava antecipando que a injeção de liquidez da joint venture aumentaria o balanço para uma posição líquida de caixa (da dívida líquida de US$ 1 bilhão no 1T20E) melhora suas ofertas de jatos executivos e de defesa.
Como o restante da aviação comercial, as ofertas regionais de jatos da Embraer provavelmente estão enfrentando uma seca de demanda nos próximos 12 meses, tornando as coisas ainda mais desafiadoras.
No modelo mais recente do banco, incluiu 65 E-Jets em 20 (abaixo de 89 em 19) e agora vê riscos de queda, pois esperam que solicitações de adiamento para o atraso de 338 aeronaves possam estar chegando.
- Com contribuição de Reuters