Por Eduardo Baptista
PEQUIM (Reuters) - Como a maioria dos moradores de Pequim, Wang ficou feliz e aliviada quando soube na semana passada que a China estava abandonando quase todas as restrições da política Covid-zero. Um dia depois, a mulher de 43 anos perdeu o emprego onde realizava testes de Covid-19.
"O líder do nosso grupo me disse pessoalmente que eu não era mais necessária por causa da nova política", disse ela à Reuters, recusando-se a fornecer seu nome completo.
Após protestos, o governo chinês aliviou algumas restrições no início deste mês antes de abandonar abruptamente a maioria das medidas de controle --incluindo testes obrigatórios em massa de PCR realizados em grande parte do país.
A reviravolta na postura significou uma mudança da noite para o dia para as empresas envolvidas em produtos e serviços de quarentena, rastreamento de contágio e monitoramento de movimento.
As estimativas dos analistas reunidas pela Reuters em maio colocaram os gastos planejados da China relacionados à Covid-19 este ano --dos quais essas indústrias formaram uma grande parte-- em cerca de 52 bilhões de dólares.
Algumas estimativas menos conservadoras chegaram a colocar o custo potencial de testes em massa deste ano em 1,5% a 1,8% do Produto Interno Bruto da China, mais do que o PIB do Catar.
Licitações canceladas
Nas últimas duas semanas, mais de 30 governos locais cancelaram licitações para serviços e produtos relacionados ao controle da Covid-19, mostrou uma análise da Reuters.
As empresas que obtiveram enormes lucros com os testes de PCR em massa viram suas ações caírem este mês. As ações da Shanghai Labway Clinical Laboratory caíram 11%, os papéis da Guangdong Hybribio recuaram 8%, enquanto as ações da Dian Diagnostics Group tiveram perdas de 5%.
As empresas não responderam aos pedidos de comentários da Reuters.
Com o tempo, o retorno à atividade econômica mais normal deve ajudar mais pessoas a encontrar empregos.
O novo impulso de vacinação focado nos idosos poderá fornecer emprego para testadores demitidos, enquanto as autoridades locais podem contratar funcionários para apoiar residentes vulneráveis ou idosos que ficam em casa, disse Alicia Garcia-Herrero, economista-chefe para Ásia-Pacífico da Natixis.
"Todo o dinheiro que foi investido em testes em massa não vai simplesmente desaparecer, quando você aumenta os gastos assim, é difícil cortá-los." Wang, que havia conseguido seu emprego como testadora apenas três semanas antes de ser demitida, disse que era irritante estar procurando emprego novamente. Mas ela não parecia lamentar a perda do trabalho que significava andar por horas a fio em um traje suado de proteção enquanto lidava com residentes mal-humorados.
"Pelo menos a economia vai melhorar com essas mudanças, então será mais fácil para mim encontrar um emprego", disse ela.
(Por Eduardo Baptista)