Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - A crise política e econômica tem impacto momentâneo para o setor de energia do Brasil, que ganhará atratividade para investimentos nos próximos anos, principalmente em um contexto em que o país deverá mudar seu foco para projetos menores e de novas tecnologias, como geração eólica e solar, em detrimento das mega hidrelétricas, disse o presidente da elétrica francesa Engie no país.
Controladora da Tractebel (SA:TBLE3), maior geradora privada do Brasil, a Engie buscará apoiar sua expansão no país em usinas eólicas, solares e hidrelétricas de médio porte, mas aposta também no gás natural e em instalações elétricas de pequeno porte, como placas solares em telhados de residências, comércios e indústrias --modalidade conhecida como geração distribuída.
"Agora a evolução do setor é para projetos com talvez menor capacidade... com esse barateamento da tecnologia solar, eólica, você acaba tendo outras possibilidades. Também vai ter um espaço grande para a geração descentralizada, e esse é outro tema em que estamos investindo", disse Maurício Bähr em entrevista à Reuters por telefone nesta sexta-feira.
Ele explicou que a guinada rumo a usinas menores, ante os projetos de hidrelétricas gigantes na Amazônia viabilizados na última década, deve ser fruto também de complicações na construção dessas usinas, que atrasaram e hoje buscam evitar perdas financeiras com ações na Justiça.
"Acho que são projetos que o país deve continuar buscando fazer... agora, do ponto de vista do investidor, foi muito doloroso o investimento", afirmo o executivo da companhia, que é majoritária na usina de Jirau em Rondônia.
Segundo ele, a Tractebel deverá participar dos próximos leilões do governo federal para contratação de novas usinas com empreendimentos eólicos e solares que somarão "algumas centenas de megawatts" em capacidade instalada.
"Não é nada pequeno, não... vamos continuar crescendo em energia eólica e fazer a mesma coisa na área solar... estamos trabalhando bastante para atrair outros fabricantes de painéis solares para o Brasil, porque queremos ver na área solar o mesmo desempenho da eólica, de atração de fabricantes, empregos", disse ele, sem dar detalhes sobre o valor do investimento.
Ele comentou que a empresa chegou a participar de um leilão de geração realizado em abril, que contratou usinas para início de operação em 2021, mas não conseguiu viabilizar projetos devido à baixa demanda.
Em meio à crise econômica e política, o certame registrou o menor nível de contratação de novas usinas desde 2009.
A demanda foi baixa porque a retração da atividade econômica fez com que as distribuidoras de energia do país ficassem com excesso de eletricidade contratada frente à demandada atual de seus consumidores, mas para a Engie esse quadro pode ser ilusório.
"Acho que estamos contaminados por esse pessimismo instantâneo. Tão logo passe essa fase de ajuste (da economia), vai retomar o crescimento, as indústrias que hoje estão ociosas vão poder se recuperar rapidamente. A retomada da economia vai se dar numa velocidade mais rápida que a velocidade do mercado de fazer novas usinas", afirmou Bähr.
Ele também disse acreditar que diversos empreendimentos contratados nos últimos anos não serão viabilizados devido ao ambiente macroeconômico desfavorável, com juros elevados e financiamento escasso.
CONSOLIDAÇÃO
Além do crescimento orgânico, a Tractebel também seguirá atenta ao mercado de fusões e aquisições, que deverá se aquecer nos próximos anos, conforme a crise fiscal do governo federal e dos Estados deve forçar a saída do mercado ou redução do tamanho de estatais.
"Nós sempre avaliamos as potenciais vendas e compras no mercado. É constante. E acredito que o Brasil vai passar por uma fase de consolidação e mais necessidade de capital privado sendo investido... acho que tem um mercado que vai voltar a ser aquecido", disse Bähr.
Atualmente, diversas companhias do setor de energia do Brasil já anunciaram a intenção de vender ativos, como a elétrica federal Eletrobras (SA:ELET3), as estatais estaduais Cemig (SA:CMIG4), CEB e CEEE e as privadas Duke Energy (SA:GEPA4) e Light (SA:LIGT3), por exemplo.
"Tem muita coisa acontecendo e o mercado continua sendo atrativo. Quem está vendendo (ativos) é por necessidade, não por falta de atratividade", afirmou o CEO da Engie Brasil.