Por Flavia Bohone e Gram Slattery
SÃO PAULO (Reuters) - A francesa Aigle Azur considera expandir voos para novos destinos no Brasil, após sua estreia no final da semana passada em parceria com a Azul (SA:AZUL4) com rota entre Paris e Campinas (SP), mas o avanço não deve ser imediato.
"Nós estamos considerando novos destinos, mas... serviços aéreos entre dois países são geridos por acordos bilaterais ou por acordos de céus abertos. E, no caso de Brasil e França, há limitações sobre o que podemos fazer", disse o presidente da Aigle Azur, Frantz Yvelin, em entrevista à Reuters.
O executivo destacou, no entanto, que essas dificuldades não significam que a empresa não possa voar para destinos como Recife, importante hub da Azul, ou outras cidades como Fortaleza, Porto Alegre ou Rio de Janeiro.
Por sua vez, a Azul também considera expandir a atuação internacional e estuda criar novas rotas ao final de 2019, aproveitando-se das novas aeronaves Airbus A330neo que começam a chegar no fim deste ano, embora a preferência da Azul, segundo seu diretor de alianças, Marcelo Bento Ribeiro, seja aumentar as frequências em mercados onde já atua antes de voar para novas cidades.
"Nós temos novas aeronaves chegando no fim deste ano... e isso vai permitir que a gente cresça internacionalmente", disse Ribeiro, referindo-se aos cinco aviões A330neo que começam a ser recebidos este ano e com a última aeronave chegando em 2020.
Segundo Ribeiro, entre as possibilidades de voos internacionais, a Azul não descarta operar diretamente para Paris, em adição aos voos já operados em parceria com a Aigle Azur, podendo assim tornar a frequência diária.
"Nós preferimos expandir onde já estamos, de um jeito ou de outro, do que começar a lançar novas cidades, o que tem custo maior", disse Ribeiro.
Em março, a Azul anunciou a parceria com a francesa Aigle Azur para oferecer voos do aeroporto de Viracopos (SP) para Paris a partir deste mês, sendo que o primeiro voo entre as duas cidades aconteceu quinta-feira da semana passada. Os voos da Aigle Azur estão baseados no aeroporto de Orly, em Paris, e são operados com aeronaves Airbus A330.
Inicialmente, serão três voos semanais entre as duas cidades, subindo para quatro frequências semanais em setembro. O presidente do conselho de administração da Azul, David Neeleman, é também acionista da Aigle Azur.
Sem dar números, os executivos das duas empresas disseram que as reservas para os primeiros voos entre Paris e Campinas operados pela Aigle Azur estão "acima das expectativas".
"Nós estamos muito felizes com nossos resultados iniciais. Claro, estamos no melhor mês do ano, então estamos sendo cautelosos porque é alta temporada... Mas é um começo muito bom", disse Ribeiro, da Azul.
CÉUS ABERTOS
No mês passado, o presidente Michel Temer promulgou o acordo que põe fim à limitação de voos entre Brasil e Estados Unidos, chamado de acordo de céus abertos, que pode aumentar os voos de empresas norte-americanas para o Brasil.
Apesar disso, Ribeiro, da Azul, não vê impacto imediato, uma vez que as empresas dos EUA não estão usando todas as permissões que já poderiam usar para voar para o Brasil, mas vê o aumento da concorrência com o passar do tempo.
"Nós não estamos preocupados com a concorrência, nós estamos preocupados porque empresas estrangeiras, especialmente dos EUA, têm custos menores que os nossos. Nós pagamos muito mais impostos do que eles, suas regras trabalhistas são mais flexíveis do que as brasileiras. Então, no fim do dia, eles têm algumas vantagens que nos preocupam", disse Ribeiro.
Entre os custos elevados no Brasil, Ribeiro destacou os relacionados ao combustível, não apenas devido às políticas para o combustível de aviação no país, mas também pelas dificuldades logísticas.
"Nós pagamos ICMS sobre o combustível e ele varia de Estado para Estado e pode chegar a 25 por cento e, na verdade, em alguns Estados pode chegar a até quase 30 por cento", disse.
No ano passado, as empresas aéreas não conseguiram que o Senado aprovasse a limitação em 12 por cento do ICMS sobre o combustível de aviação, e com as eleições deste ano, a medida corre o risco de ser adiada para a próxima gestão.
Em relação às dificuldades de infraestrutura, o executivo destaca que a privatização de aeroportos é importante para manter o fluxo de investimentos e melhorar as condições dos aeroportos, mas ele destacou que o processo não necessariamente torna os aeroportos mais baratos.
"Uma coisa que nós não gostamos no atual modelo de privatização são os blocos de aeroportos... porque, por exemplo, (o aeroporto de) Recife será privatizado em um bloco de outros aeroportos", disse Ribeiro. "Dinheiro não cresce em árvore, então Recife vai ter que subsidiar aeroportos menores, o que vai aumentar o custo de operar em Recife", disse o executivo da Azul.
O governo federal pretende realizar na primeira quinzena de dezembro o leilão de concessão de 13 aeroportos, divididos em três blocos, com terminais no Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste. Entre eles está o aeroporto de Recife.
Apesar de operar em aeroportos menores devido aos voos regionais e que poderia levar a Azul a se beneficiar em alguns casos de subsídio de aeroportos maiores, Ribeiro destacou que o modelo não é transparente.
"Talvez seja o caso de Mato Grosso onde Cuiabá é o aeroporto principal no bloco e outros aeroportos em cidades menores estão no mesmo bloco. Isso pode nos beneficiar porque estamos operando nesses aeroportos menores, mas nós preferimos ter transparência de preços e de custos porque é melhor do que subsídios que nós não controlamos e não sabemos exatamente como estão acontecendo", disse.