Por Alasdair Pal e James Redmayne
COFFS HARBOUR, Austrália (Reuters) - Girando descalço em um círculo de areia, Clark Webb lidera uma turma de crianças em idade escolar enquanto elas dançam ao som de palmas e canções dos Gumbaynggirr, um povo aborígine australiano.
“Abrir as nossas próprias escolas é a soberania em ação”, disse Webb, um dos que procuram reavivar a língua indígena falada em Coffs Harbour, uma cidade costeira a cerca de 500 quilômetros a norte de Sydney.
"E então precisamos daquela 'Voz' para fazer pressão por isso."
Webb estava se referindo a um procedimento chamado “Voz ao Parlamento”, que irá a um referendo em 14 de outubro para decidir se os povos indígenas serão reconhecidos pela primeira vez na constituição da Austrália.
Quando foi inaugurada no ano passado, a Gumbaynggirr Giingana Freedom School (GGFS), que Webb ajudou a fundar, era a primeira escola indígena bilíngue no Estado mais populoso da Austrália, Nova Gales do Sul.
A instituição faz parte de uma tentativa de baixo para cima de retomar dezenas de línguas que estão à beira da extinção e também está sendo apoiada pelos governos federal e estadual.
Muitos dos povos indígenas da Austrália consideram o renascimento da língua fundamental para garantir a sobrevivência de suas culturas, em um dos anos mais importantes para os direitos indígenas na história do país.
As comunidades indígenas da Austrália, ou aborígenes e das ilhas do Estreito de Torres, são provavelmente as mais antigas do mundo, com uma história no continente que remonta a dezenas de milhares de anos.
Mas após a colonização pelo Reino Unido em 1788, os grupos enfrentaram cada vez mais discriminação, que continuou muito depois de a Austrália se tornar um país em 1901.
As autoridades muitas vezes deslocaram os povos indígenas das suas terras tradicionais e separaram à força crianças indígenas de suas famílias, resultando em uma “geração roubada” devido às políticas que vigoraram desde meados do século 19 até a década de 1970.
Ainda na década de 1980, as autoridades puniram os povos indígenas por falarem suas línguas.
“Acho que, enquanto crescia, eu sabia que faltava algo na minha vida”, disse Webb. "E à medida que fui crescendo, percebi que o elo que faltava para mim era a nossa língua."