A desaceleração nos preços dos Estados Unidos em julho é uma boa notícia para países emergentes, que sentem os efeitos da subida de juros nos países desenvolvidos em termos de saída de capital. Não é garantia, porém, de que os volumes financeiros que têm deixado essas economias, dentre elas o Brasil, não vão voltar a crescer nos próximos meses.
O índice de preços ao consumidor (CPI) dos EUA ficou estável em julho ante junho e contribuiu para forte queda do dólar frente ao real. Na mínima do dia, na sexta-feira, a divisa norte-americana chegou a R$ 5,065, com o apetite de risco favorecendo a entrada de fluxo estrangeiro no Brasil em meio à expectativa de que o aperto monetário do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) não seja tão intenso à frente.
"A velocidade com que o Fed aumenta os juros, o impacto na taxa de câmbio e, finalmente, a saúde da economia dos EUA vão importar muito para os emergentes", diz a economista-chefe do Mastercard Economics Institute para os EUA, Michelle Meyer.
Em agosto, o investidor estrangeiro já quase dobrou os recursos aportados na Bolsa brasileira. Até o dia 8 deste mês, entraram R$ 3,296 bilhões, ante um saldo positivo de R$ 1,852 bilhão em julho, conforme dados da B3 (BVMF:B3SA3).
Para o economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), Robin Brooks, o medo da inflação global que pesava sobre os mercados emergentes acabou: "As moedas de mercados emergentes estão agora em forte alta, com o real brasileiro liderando o grupo".
Em paralelo ao alívio da inflação nos EUA, a saída de capital de países emergentes também diminuiu em julho, apoiando os ativos locais, de acordo com a britânica Capital Economics. Para a consultoria, entretanto, foi apenas uma trégua. Nos próximos meses, o risco é de que um maior volume de dinheiro continue deixando os países emergentes.
"Olhando à frente, apesar da recente pausa, nossa visão é de que os fluxos de saída dos emergentes vão aumentar novamente no restante do ano", avalia o economista da Capital Economics Shilan Shah.
De acordo com ele, o aperto monetário nos países desenvolvidos vai empurrar o rendimento dos títulos globais para cima, o que joga contra os emergentes. Shah alerta que o cenário representa uma "ameaça" principalmente para países cujos déficits em conta corrente aumentaram ou estão em processo de subida, citando Turquia e Chile.
"Os países emergentes estão amarrados aos EUA. Quando os EUA espirram, muitos outros países tendem a pegar o resfriado também", alerta Michelle, do Mastercard Economics Institute.
Quer saber como os juros dos países desenvolvidos afetam os emergentes? Assista o vídeo abaixo:
EUROPA
Enquanto os emergentes tendem a ser beneficiados com a trégua na inflação dos EUA, a Europa deve ser mais impactada, diz Brooks, do IIF. Novamente, o euro caiu abaixo da paridade com o dólar. "O CPI em julho é o primeiro sinal de que o medo da inflação global está diminuindo. Isso afetará muito mais a zona do euro do que os EUA, já que a primeira está entrando em recessão, ao contrário dos EUA", conclui o economista.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.