Por Laura Sanches
Investing.com - Os mercados europeus fecharam no azul (Ibex 35, CAC 40, DAX nesta segunda-feira, em uma semana em que saberemos dados macroeconômicos importantes, como o o IPC nos Estados Unidos. Em um mercado onde os bancos centrais estão adotando posições agressivas, os investidores estão examinando as oportunidades de investimento. E, segundo especialistas, alguns são subvalorizados.
Isabel Levy, Co-CIO da Metropole Gestion, subsidiária da ODDO BHF AM, lembra que a queda acentuada das taxas de juros de longo prazo a partir de 2014 causou uma inflação sem precedentes de múltiplos de avaliação em alguns segmentos dos mercados de ações europeias. Setores menos cíclicos ou com perspectivas de crescimento promissoras, ou seja, aqueles que se prestam bem à avaliação de fluxo de caixa descontado (DCF), tiveram um desempenho particularmente bom nesse período, observa Levy.
“Nos últimos anos, várias ações viram seus múltiplos de valorização dispararem simplesmente pelo impacto da queda das taxas de desconto usadas. Esses múltiplos atingiram seus níveis mais altos, muitas vezes sem o suporte dos fundamentos das empresas em questão, justamente quando eclodiu a crise da covid. No entanto, à semelhança de tantos ativos de longa duração, este segmento de mercado, altamente representado nos índices de 'crescimento', tem sofrido desproporcionalmente desde o início do ano, num contexto de regresso à inflação e forte subida das taxas de juros de longo prazo”, explica esta especialista.
Como explica Levy, a relação preço/lucro do MSCI Europe Growth Index, por exemplo, passou de 26x no início do ano para 20x no final de maio. "Essa é uma queda notável, mas só até certo ponto, pois ainda representa 125% da média de longo prazo desse índice. Embora a grande maioria das empresas do segmento ainda não tenha cortado seu alto valor, algumas a mostrar descontos atraentes", diz ele.
Abordagem de avaliação Industrial
"Seria um erro avaliar as oportunidades de investimento para um gestor de estilo 'valor' apenas com base nos critérios de avaliação usados na construção de índices 'valor'. Nossa abordagem, baseada em uma avaliação industrial de empresas, abre um caminho muito mais amplo espectro que às vezes nos leva a investir em ações tradicionalmente consideradas de 'crescimento'. Nosso ponto de vista é que nenhuma empresa é estruturalmente definível como uma ação de 'crescimento' ou 'valor'. Qualquer empresa, ao longo de sua história no mercado de ações, pode se encontrar em uma ou outra dessas categorias", destaca Isabel Levy.
Ativos no setor de luxo, um bom exemplo
O setor de luxo está, pela sua própria natureza, fortemente ligado ao 'crescimento', e as empresas de bens de luxo tendem a não ser vistas como potenciais oportunidades de investimento para gestores de 'valor', explica o Co-CIO da Metropole Gestion.
Conforme detalha a analista, "embora seja preciso dizer que essas oportunidades foram escassas nas últimas décadas, elas existiram: em 2008, por exemplo, na época da crise financeira, ou em 2014, quando a China introduziu medidas anticorrupção. A rentabilidade estrutural das empresas de luxo não é questionada, mas ao aumentar os temores de uma desaceleração nos negócios, elas ajudaram a remover os prêmios de crescimento que esses grupos desfrutavam anteriormente. Os bloqueios impostos na China nos últimos meses em resposta às novas ondas de Covid e, mais recentemente, aos temores de uma recessão global, tiveram efeitos semelhantes nas avaliações do setor e estão abrindo uma nova janela de oportunidade de investimento."
“A adoção uma abordagem de valoração industrial levou-nos a investir em vários grupos de bens de luxo em 2009 e 2014, investimentos que se revelaram muito positivos”, acrescenta.
“Contornar os riscos de curto prazo e a volatilidade do mercado, mantendo um processo de gestão rigoroso, abre uma fonte de oportunidades de investimento inexploradas para gerar retornos de longo prazo”, conclui Levy.