Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - A Fitch Ratings elogiou os juros baixos e a posição cambial no Brasil, mas destacou uma série de outros riscos do lado político que podem afetar o cenário para reformas neste ano, sem emitir sinais de melhora no curto prazo na nota de crédito soberano do país.
Shelly Shetty, diretora sênior e co-head de ratings soberanos das Américas para a Fitch, disse que, em média, países com perfil parecido com o do Brasil demoram de dez a 11 anos para recuperar o grau de investimento, contra uma média geral de seis anos.
A executiva considerou uma "boa notícia" a queda da dívida pública com proporção do PIB em 2019, mas previu que o país ainda caminha para marcar déficits primários até pelo menos 2022, com a reforma da Previdência sozinha não sendo capaz de levar a uma consolidaçao fiscal.
"Precisamos ver o que vai passar (de reformas) considerando as eleições de outubro. Existem riscos políticos, riscos sobre a capacidade de aprovar as reformas, e vamos avaliar o que isso significa em termos do processo de consolidação fiscal", afirmou Shetty em evento promovido pela agência em São Paulo.
Do lado positivo, a Fitch prevê que a taxa Selic permanecerá baixa pelo menos ao longo deste ano, com os juros baixos devendo ser sentidos na cadeia de crédito e nos mercados de capitais. Além disso, a posição cambial do Brasil segue "forte", já que, junto com a venda de reservas em 2019, o Banco Central também reduziu o estoque de swaps cambiais, o que manteve a posição líquida de câmbio em patamar confortável.
O Banco Central cortou a Selic na véspera em 0,25 ponto percentual, para nova mínima de 4,25% ao ano, mas adotou um tom mais duro ao sinalizar os próximos passos.
Ainda assim, o crescimento potencial do Brasil estimado pela Fitch segue abaixo de 2%. Em dezembro passado, a agência elevou de 2,0% para 2,2% a previsão de crescimento econômico do país para 2020 e também aumentou --de 0,8% para 1,1%-- o número para 2019.
A última atualização da nota do Brasil pela Fitch ocorreu em meados de novembro passado, quando a agência confirmou o "rating" "BB-" com perspectiva estável, devido a elevado endividamento do governo, rigidez fiscal e fraco crescimento econômico potencial.
Em meados de janeiro de 2020, a Moody's disse que qualquer melhora na nota de crédito soberano do Brasil deverá ser "gradual", apesar da aprovação de reformas "críticas" e em meio a uma ainda elevada carga de dívida e a riscos de enfraquecimento do "ímpeto" para as reformas.
Em dezembro passado, a Standard and Poor's elevou a perspectiva para o "rating" soberano em moeda estrangeira do Brasil de "estável" para "positiva". A analista Livia Honsel disse em entrevista à "Folha de S.Paulo" que a agência poderia aumentar a nota do Brasil "nos próximos trimestres" caso o déficit primário como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) continuasse a cair.
A S&P atribui nota "BB-" ao Brasil, enquanto a Moody's classifica o país como "Ba2", com perspectiva estável. O "rating" por S&P e Fitch está três degraus abaixo do mínimo para grau de investimento ("BBB-" na escala de ambas). Pela Moody's, o Brasil está dois graus aquém do piso de "Baa3".
As três agências cortaram o Brasil para território especulativo entre setembro de 2015 e fevereiro de 2016, no meio de um processo de forte aumento de dívida e de intensa deterioração nos ativos locais.