Por Letícia Fucuchima
SÃO PAULO (Reuters) - A australiana Fortescue espera receber em setembro a licença prévia para instalação de uma planta de hidrogênio verde no Porto de Pecém, no Ceará, em um passo importante para emplacar um dos primeiros empreendimentos da América Latina para produção em larga escala do combustível renovável.
Em entrevista à Reuters, o presidente da Fortescue na América Latina, Agustín Pichot, disse ainda que o projeto brasileiro é um dos mais promissores da carteira de hidrogênio verde da empresa no mundo, tendo em vista o potencial do país em energia renovável usada na produção do combustível.
A mineradora australiana vem trabalhando há cerca de dois anos no desenvolvimento da planta em Pecém por meio de sua unidade de negócios para projetos de energia.
Os estudos de impacto ambiental, conhecidos como EIA/RIMA, já foram entregues ao Estado, com as discussões para aprovação da licença prévia marcadas para setembro.
"Acredito que o Brasil pode ser um dos principais hubs de hidrogênio, o país tem energia barata, muitas fontes renováveis na matriz, estamos trabalhando muito para reduzir custos de produção... Isso tem que ser feito em escala para ser competitivo, é o estágio em que estamos", destacou Pichot.
O projeto da Fortescue prevê a instalação de uma planta com 1,2 gigawatt (GW) de capacidade de eletrólise e potencial produtivo de 900 mil toneladas de amônia verde, produto que será exportado e poderá ser convertido novamente em sua matéria-prima (o hidrogênio) nos países consumidores.
A companhia deve tomar uma decisão final de investimentos na planta brasileira, que deve exigir recursos bilionários, até o segundo trimestre de 2024. A expectativa é de que a produção possa começar no início de 2027.
O executivo não deu mais detalhes sobre a contratação da energia renovável que irá suprir o consumo da planta ou acordos para venda do hidrogênio, mas afirmou que a Fortescue já tem pré-contratos e memorandos assinados com alguns parceiros.
Do lado dos "offtakers" do hidrogênio e amônia verdes, o mercado prioritário para a companhia é a Europa, já tendo sido firmado um memorando com a operadora de rede e infraestrutura alemã E.ON.
Além disso, a Fortescue está prospectando outros clientes em potencial na Ásia, em países como Cingapura, Japão e Coreia do Sul, onde também estão sendo desenvolvidos grandes mercados para o hidrogênio verde.
"Estamos muito confiantes de que o que produzirmos nos próximos três ou quatro anos será vendido com um prêmio sobre o preço."
Ainda segundo ele, as atividades de mineração da própria Fortescue, que é a quarta maior produtora de minério de ferro do mundo, podem ser consumidoras do hidrogênio produzido pela companhia na Austrália e em outros países, já que a mineradora também tem suas metas globais de descarbonização.
O projeto no Brasil está sendo desenvolvido pela Fortescue paralelamente a outros espalhados pelo mundo, em países como Austrália, EUA, Quênia, Marrocos e Noruega. A empresa também deve decidir sobre avançar com os investimentos nessas outras regiões dentro de seis a oito meses, disse o executivo.
Incentivos para a produção
Um dos principais desafios para a Fortescue no desenvolvimento das plantas tem sido melhorar os custos de produção de hidrogênio verde, combustível que, apesar de seu apelo sustentável, ainda é mais caro se comparado com outras fontes.
"Estamos trabalhando duro para reduzir os custos, temos mais de 300 engenheiros trabalhando para otimizar as plantas de eletrólise e amônia, que são as partes críticas do projeto", explicou Pichot.
Para que esses ganhos sejam possíveis, o executivo reforçou que incentivos do governo brasileiro para a produção seriam fundamentais, principalmente em um contexto em que vários países têm buscado incentivar essa nova indústria do hidrogênio com pesados subsídios.
Como exemplo, ele mencionou o Inflation Reduction Act (IRA), a legislação dos EUA para apoiar a transição energética, que estabeleceu um subsídio de 3 dólares por quilo de hidrogênio verde produzido.
"Esses incentivos são os que mudam o jogo. É o que aconteceu nos EUA, esse é o tipo de legislação que coloca uma nova indústria no mapa imediatamente."
"Qualquer coisa que vá na direção desse ângulo (do IRA) seria útil para reduzir os custos", acrescentou o executivo, quando questionado sobre suas expectativas para incentivos do gênero no Brasil.
(Por Letícia Fucuchima)