Por Aluísio Alves e Guillermo Parra-Bernal
SÃO PAULO (Reuters) - A Funcesp não vai atingir sua meta atuarial em 2015, refletindo o mau momento do mercado brasileiro, incluindo forte desvalorização da moeda brasileira e aumento do custo de capital das empresas, disse o diretor de Investimentos do quarto maior fundo de pensão do Brasil, Jorge Simino.
O fundo tem como meta para este ano um retorno de 5,45 pontos percentuais acima da variação anual do IGP-DI. Simino não especificou quanto espera de rentabilidade para o ano. O IGP-DI acumulado em 2015 até agosto é de 5,53 por cento. Em 12 meses até o mês passado, o índice teve alta de 7,80 por cento.
A meta atuarial é a rentabilidade mínima esperada por um fundo para manter o equilíbrio entre contribuições e pagamento de benefícios no longo prazo.
Nos últimos dez anos, a rentabilidade acumulada foi de 304,8 por cento, ante meta de 197,8 por cento. Nesse intervalo, as aplicações no CDI renderam 200,5 por cento.
O fundo tem evitado assumir riscos diante da economia em recessão e do ceticismo do mercado sobre a capacidade do governo federal para reequilibrar o déficit orçamentário e em conta corrente.
"Não há ainda nenhum sinal de melhora do quadro político e econômico", disse Simino em entrevista à Reuters na quinta-feira.
"O problema maior pode não ser se já chegamos ao fundo do poço, mas quanto tempo vamos ficar lá", acrescentou.
A alta de mais de 40 por cento do dólar frente ao real no ano impulsionou o IGP-DI, dificultando o cumprimento das metas atuariais da Funcesp. Os esforços para aumentar os investimentos de capital em dólares não compensaram o fraco desempenho de outros ativos.
Para 2016, a Funcesp, que administra 23 bilhões de reais em ativos para empregados da geradora de energia paulista Cesp (SA:CESP5) e de mais nove empresas, tende a elevar o volume de recursos em caixa e outros investimentos de curto prazo, ante os atuais 16 por cento.
De acordo com Simino, a Funcesp deve ficar ainda mais seletiva em relação às ações domésticas e outros ativos mais arriscados, após o rebaixamento do rating soberano do país na quarta-feira pela Standard & Poor's para o patamar de grau especulativo, o que deixou as perspectivas de investimento para o ano que vem ainda mais nebulosas.
"É difícil ter uma ideia clara para 2016, porque ninguém neste momento é capaz de prever quando a crise vai acabar", disse Simino. "Vai ser um ano pelo menos tão difícil quanto esse."
No início de 2015, a Funcesp tinha 65 por cento dos ativos sob gestão alocados em renda fixa, cerca de 15 por cento em ações, 3,5 por cento no mercado imobiliário e 1,5 por cento em empréstimos a participantes do fundo. O restante estava em caixa e investimentos mais líquidos.
"A nossa estratégia atual --de preservar caixa, cortando investimentos de capital, e manter exposição a ações de empresas estrangeiras-- será mantida por mais um ano", afirmou Simino.
A abordagem defensiva da Funcesp vem após os mercados domésticos terem tido desempenho fraco nos últimos três anos, em meio a decisões de política econômica que pesaram na confiança dos investidores.
(Edição Alberto Alerigi Jr. e Cesar Bianconi)