Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - O governo tem conversado com empresas de energia elétrica e acompanhado a situação do setor em meio a um cenário de forte redução no consumo de eletricidade esperado no Brasil, devido à pandemia global de coronavírus, disseram nesta sexta-feira o Ministério de Minas e Energia e a elétrica mineira Cemig (SA:CMIG4).
Para evitar a disseminação da doença, governos estaduais e prefeituras têm adotado medidas de restrição ao funcionamento de empresas, enquanto muitas empresas têm colocado funcionários sob regime de trabalho remoto ou mesmo férias coletivas.
Um estudo da consultoria especializada Thymos Energia divulgado nesta sexta-feira apontou que o consumo de eletricidade no Brasil pode cair 1,6% frente a 2019 em uma visão mais otimista, com retração de 4% em simulação "moderada" e recuo de até 14% em um cenário "catastrófico".
"O governo tem acompanhado a situação pari passu, para que possa tomar as medidas necessárias e possíveis frente a cada desafio que se apresentar", disse o Ministério de Minas e Energia, após questionamento da Reuters.
Mais cedo nesta sexta-feira, um executivo da Cemig disse que já há conversas das empresas do setor com o governo para análise de eventuais medidas, em conversa liderada pela Associação Brasileira de Distribuidores de Energia (Abradee).
"Fatalmente, a Cemig e todas as distribuidoras vão ficar com sobrecontratação... a Abradee já está tratando de todos os efeitos dessa crise para a sustentabilidade do setor. A gente deve ter algumas indicações, alguns 'alívios' anunciados nos próximos dias", disse o diretor da unidade de distribuição da Cemig, Ronaldo de Abreu, em teleconferência nesta sexta-feira.
A Cemig Distribuição é a maior distribuidora de energia do Brasil em número de clientes.
Segundo Abreu, as empresas do setor tentam convencer o governo a "flexibilizar algumas regras", como as referentes ao excesso de energia contratada.
Pelas atuais normas, as distribuidoras são obrigadas a ter energia para atender toda demanda de seus clientes, sob pena de pesadas multas.
Quando a o consumo cai, no entanto, sobras de energia precisam ser vendidas aos preços spot, ou Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), independentemente de quanto as elétricas pagam por essa energia em seus contratos originais de compra.
Até um nível de tolerância, equivalente a 107% do consumo, eventuais perdas com a venda dos excedentes podem ser repassadas aos consumidores, enquanto o que ultrapassa esse limite passa a gerar prejuízo para as distribuidoras.
Existem atualmente mecanismos de negociação de sobras que permitem às distribuidoras se desfazer de excedentes, mas há uma preocupação de que essas ferramentas não sejam suficientes em um cenário de queda na demanda para todas empresas do setor.
Questionado sobre eventuais medidas em estudo, o Ministério de Minas e Energia não entrou em detalhes, e disse apenas que eventuais decisões serão comunicadas "assim que elas forem tomadas".
O setor elétrico do Brasil passou recentemente por uma crise de sobrecontratação de energia nas distribuidoras, em meio à recessão econômica vista entre 2014 e 2016.
Uma eventual queda na demanda por energia em 2020 ainda representaria brutal mudança de cenário frente às expectativas. No início do ano, a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) projetava que o consumo poderia crescer 4,2% neste ano, o que seria o maior avanço desde 2014.