BRASÍLIA (Reuters) - O ministro das relações institucionais, Alexandre Padilha, anunciou nesta quinta-feira que o governo irá apoiar a CPMI do 8 de janeiro, caso a ata de instalação seja lida em sessão do Congresso, em uma mudança da posição que vinha sendo defendida até agora.
Segundo o ministro, o governo irá fazer “o enfrentamento político” da versão da oposição, que acusa o governo de ter facilitado os ataques, para enterrar de vez esse discurso.
"Caso a sessão do Congresso tenha a leitura da instalação da CPMI, nós apoiaremos a instalação. Vamos orientar os líderes dos partidos da base a indicar membros para essa CPMI, vamos enfrentar esse debate político que está querendo ser criado por aqueles que passaram pano para os atentados de 8 de janeiro", disse Padilha.
Até agora o governo vinha tentando evitar a instalação, apostando na retirada de assinaturas do pedido, mas Padilha admitiu que há "uma nova situação política" com a divulgação de imagens de segurança interna do Planalto durante os ataques de janeiro.
A difusão do vídeo pela CNN Brasil inflamou a oposição e levou à queda do ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Marco Edson Gonçalves Dias, na quarta-feira, quando o governo já avaliava que não teria mais condições de segurar a instalação da comissão.
O Planalto vê três pontos negativos na possibilidade de uma CPMI sobre o assunto agora. A primeira delas é o fato de que a oposição tentará desfazer a imagem do governo como pró-democracia, que se consolidou depois dos ataques, em oposição ao golpismos dos apoiadores de Jair Bolsonaro.
Além disso, o governo prevê tentativas de constranger os ministros da Defesa, José Múcio Monteiro, e da Justiça, Flávio Dino, peças-chave do atual governo.
O terceiro é o risco de dispersão de energia e tempo em um momento em que o governo tem que trabalhar a aprovação do arcabouço fiscal e uma futura reforma tributária e que ainda não teve testes para valer que dimensionem o tamanho de sua base de apoio.
Na noite de quarta, líderes do governo já começaram a indicar que haviam aceitado o inevitável e se preparavam para tentar ocupar espaços na CPMI.
"Ninguém mais do que o governo quer investigar o 8 de janeiro, doa a quem doer", disse O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE). "Se o Congresso quiser instalar a CPMI, estamos prontos para ajudar, inclusive para investigar."
Nesta quinta, Padilha reforçou que o governo já orientou os líderes dos partidos da base a indicar membros para a comissão, ao mesmo tempo que tenta garantir que a CPMI não irá atrasar os trabalhos de aprovação de temas importantes para o governo.
Estão no Congresso 12 Medidas Provisórias, inclusive as que alteraram os programas Minha Casa, Minha Vida, e o Bolsa Família, e o texto do arcabouço fiscal, entregue nesta semana.
"Em nenhum momento irá interferir no calendário que já vem sendo tocado", disse Padilha. "O marco fiscal também está absolutamente mantido. Tanto o presidente da Câmara quanto o presidente do Senado já sinalizaram publicamente que esse calendário será o mais rápido possível."
(Reportagem de Lisandra Paraguassu)